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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025


Menino, vem tomar banho!

Faço parte da comunidade da Primeira Igreja Batista em Jardim Carapina, que fica no município da Serra, Grande Vitória, ES. É uma igreja grande composta de muitas famílias e consequentemente temos um bom número de crianças, adolescentes, jovens, adultos e um lindo grupo da terceira idade.

De todas as faixas etárias a que mais me encanta é o grupo de crianças, pois são inocentes, voluntariosas, corajosas e cheias de energia. Quando terminam os cultos a impressão que temos é de que vários furacões se levantam pela igreja pois elas correm em todas as direções e os adultos precisam fazer grandes esforços para evitar atropelamentos.

Quando olho às crianças da minha igreja, fico pensando no meu tempo e como agíamos nos términos dos cultos. Nossos professores e líderes sofriam com a nossa correria pelas escadas e corredores da igreja. Os tempos eram outros, mas devo confessar que os dias eram bons.

Naquele tempo os dias pareciam longos, mas quando chegava na segunda-feira bem cedo um grande grupo descia o morro para enfrentar nas primeiras horas da manhã o humor de professores que muitas vezes não se mostravam nada simpáticos e como aluno não tinha voz, apenas obedecíamos. Depois de horas intermináveis na sala de aula era o momento de voltar para casa, me recordo que com muito esforço caminhávamos pelos corredores da escola, mas quando ultrapassávamos os portões, ninguém conseguia “dominar” os anjinhos na volta para casa.

Na parte da tarde depois de cumprir as tarefas da escola, sobrava tempo para brincar na rua. Naquela época empinar pipa, jogar bola na rua perturbando a vizinhança, fazia parte da nossa diversão. Era um tempo em que descer dois morros íngremes de patinetes se tornava um acontecimento com direito a expectadores, pois somente os mais corajosos se aventuravam a cometer tal loucura pois as quedas eram cinematográficas. Lamento a inexistência dos smartphones para registrarem aquelas cenas.

Como tudo que é bom dura pouco, depois de uma tarde inteira brincando chegava o momento de voltar para casa para cumprir com certas obrigações que algumas crianças mais detestavam: a hora do banho. Parecia que as mães ensaiavam, pois de todos as casas surgiam a frase mágica: menino, vem tomar banho!

Naquele tempo aos ser chamado para retornar à casa era um fato que deveria ser obedecido sem nenhum questionamento, mas tomar banho era uma história um pouco diferente para algumas crianças. Na verdade, era uma guerra pois um menino que corria a tarde inteira e ficava com o corpo banhado de poeira, misturada com suor e que dava aquelas dobrinhas de sujeiras no pescoço, precisava urgentemente de um bom banho e era nesse momento que o problema começava.

Na nossa antiga casa, havia dois banheiros: um ficava do lado de fora e o outro no interior da residência, onde as crianças se banhavam. Era um chuveiro Lorenzetti todo cromado, mas o banho era frio, pois, a criança tinha que tomar banho frio que era bom para saúde, sem contar que as vassouras que eram nossas aliadas para virar as chaves do aparelho, nessas horas desapareciam misteriosamente.

Tomar banho é uma verdadeira hora do pesadelo e o ritual era super original. Menino, vai tomar banho e entra logo nesse banheiro. Não me faça perder a paciência, senão logo você vai descobrir com “quantos paus de faz uma canoa”. Repetia uma irritada. O menino com muita má vontade, entrava e fechava a porta e sem nenhuma disposição, ficava enrolando. Menino, não estou ouvindo a água cair, toma logo esse banho, senão vou entrar aí e a coisa não vai ficar boa! Depois de algum tempo o menino abria o chuveiro e lavava os pés, mãos e pescoço, mas o corpo permanecia com aquele cheiro de suor e bem pegajoso, como a antiga cola Tenaz.  

Ao final de um bom tempo no banheiro e com a porta quase sendo derrubada, o menino (esse que vos escreve) pegava a toalha, secava o corpo mais ou menos limpo e finalmente chegava o momento da inspeção final da mãe. Deixe-me ver se você tomou banho direito! Os cabelos, os pés e as mãos passavam pelo teste, mas as orelhas e todo o corpo eram reprovados sem direito a segunda chance. Pode voltar para o chuveiro e faça o favor de deixar a porta aberta que eu vou te esfregar! Essa frase era que eu mais temia!

O banho começava pelas orelhas e como não podia faltar a famosa bucha vegetal e de maneira não muito carinhosa era devidamente esfregada por todo o corpo com direito a broncas e beliscões, sempre que havia algum tipo de reclamação e depois de longos dez minutos de sofrimento, chegava o momento final que era encarar o chuveiro frio sem piedade.

Você deve imaginar que no dia seguinte essa história seria diferente! Sinto muito lhe informar, mas os outros dias eram meras repetições dos dias anteriores. Essa história foi longa até que chegou o tempo em que esse menino mais crescidinho passou a tomar banho sem ser inspecionado pela sua mãe. 

Uma vez adolescente, surgiu um outro problema pois a criatura agora entrava no banheiro e ficava horas ouvindo música e lendo e agora sendo preciso brigar para que ele desocupasse o banheiro, pois a família era grande. Agora a frase era outra: menino, sai desse banheiro. Nada como um dia após o outro!

O menino se tornou homem, mas continua com a mesma mania de passar horas no banheiro social, lendo, escrevendo, ouvindo música e vendo vídeos e a bronca agora é outra. Menino (os filhos nunca crescem), você vai pagar aluguel ou comprou o espaço? Não se esqueça que temos outras pessoas que precisam utilizar o espaço, afinal estamos com visitas. “Visita” é a palavra-chave, quando se usa o banheiro da família, pois o banheiro do quarto da mãe é somente para os de casa.

É isso por hoje... é vida que segue!

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