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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

 


Três crianças negras desaparecidas...

Lucas Matheus, de 8 anos, o primo dele Alexandre da Silva, 10, e Fernando Henrique, 11, foram vistos pela última vez no dia 27 de dezembro do ano passado, no Morro do Castelar, em Belford Roxo.
Três crianças que tiveram suas vidas roubadas sabe-se lá por quais motivos, considerando que nada justificar tirar a vida de alguém, muito menos de três crianças.
Três crianças que poderiam ter uma vida melhor se não fossem as profundas desigualdades sociais que existem em nosso país e o tremendo desejo de um certo grupo da população, sem nenhum espírito humano, que acha que esse tipo de meninos devem morrer, antes que virem bandidos.
Três crianças que pelo tempo do desaparecimento, devem estar mortas (torço para que não), e me pergunto a troco de quê? Seria vingança contra os pais? Seriam maníacos, abusadores de crianças? Seriam traficantes de crianças? São tantas peguntas são respostas...
Três crianças que gostavam de fazer aquilo que todo menino gosta de fazer: correr, brincar, jogar bola na rua incomodando os vizinhos, soltar e pegar pipa voada, "roubar" goiaba ou qualquer fruta na casa do vizinho sem a permissão do dono.
Três crianças que queriam apenas viver de forma plena o direito de serem crianças, andando por todos os lados, fazendo algumas descobertas interessantes e outras nem tanto.
Três crianças sendo e vivendo como crianças no seio de uma sociedade que as vezes finge que as aceitam, mas na primeira oportunidade, vibram e não se interessam quando elas desaparecem, muito pelo contrário: dão graças a Deus, como se o Eterno, estivesse de acordo com tamanha aberração.
Três crianças que não podem ter os seus nomes esquecidos, para que suas famílias possam ser consoladas pelo encontro dos seus corpos com vidas, ou chorarem pela dor de sepultá-las.
Três famílias que não tiveram o direito de usar o Parágrafo 2, Artigo 208 da Lei nº 8,069, que diz “a investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes será realizada imediatamente após notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à identificação do desaparecido.” A busca por crianças desaparecidas acontece imediatamente e nunca 24 ou 48 horas após o fato.
Três famílias que têm esse direito de saber o que aconteceu e nós precisamos nos aliar a elas no sentido de cobrar das autoridades responsáveis pela celeridade nas investigações que estão se arrastando por mais de trinta dias.
Três famílias que representam uma esmagadora parcela da sociedade brasileira e por isso mesmo podem sentir literalmente na pele essa mesma experiência em suas próprias famílias.
Três famílias que estão esfarrapadas pela dor do desaparecimento e das incertezas quanto ao futuro, mas unidas na esperança de que a justiça seja feita.
Três famílias que esperam que o Sol da Justiça, entrem sujando de vida os nossos olhos sujos de morte claro de morte.