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quarta-feira, 16 de abril de 2025


UM CHEIRINHO DE CAFÉ... VÁRIAS LEMBRANÇAS!!!
(Crônica escrita a partir de uma experiência compartilha por Mônica Carleti, amiga da SRE Vila Velha)

Era uma manhã bem parecida com as outras, embora o asfalto molhado denunciasse que havia caído uma chuva fina em algum momento da madrugada. Foi tão fraquinha que sequer acordei!

Esperar pelo coletivo, sempre é uma grande aventura, pois sempre ficamos na torcida pela chegada do veículo; no motorista para saber se a viagem será rápida ou não, e, finalmente, se haverá um lugar para se sentar. Com todos esses fatores combinados, entrei no ônibus para ir ao trabalho.

Entrei e me acomodei no banco na parte da janela e, como sempre, me coloquei a observar as casas enquanto o veículo avançava na viagem, e as pessoas quando parava nos pontos. O sobe e desce das pessoas e o frenesi do corre e corre é de impressionar até mesmo os corredores profissionais.

Meus pensamentos, vagavam livremente, quando percebi mecanicamente que um rapaz sentou no banco da frente, tirou uma garrafa da mochila e utilizou a sua tampa para tomar um pouco de um café que exalava um cheiro delicioso que impregnou todo o ônibus.

Aquele cheiro me trouxe lembranças de tempos que marcaram a minha vida, mas que ficaram impregnados para sempre na minha existência, mas naquele momento pensei: quem teria feito o café para aquele jovem? Teria sido sua mãe, sua esposa ou, quem sabe, ele mesmo? Mas não tenha tido tempo de beber um pouquinho antes de sair de sua casa?

Aquele cheirinho de café, me fez lembrar no meu tempo de escola lá no interior quando ainda era criança, minha mãe se levantava bem cedo para preparar o café e arrumar os filhos. Enquanto ela preparava o lanhe matinal, sentíamos do quarto aquele cheirinho de café que me animava a descer do beliche rapidamente sem utilizar a escadinha, só para tomar o café da mamãe.

O ato daquele rapaz me conduziu às minhas férias no interior do meu estado, num lugar chamado Ibitiruí, distrito de Alfredo Chaves. Naquele tempo as férias eram de mais de três meses, e lembro muito bem que meus pais tinham um trabalho enorme, pois logo nos primeiros dias de férias queria entrar no velho trem da Leopoldina para ficar na casa dos meus tios, José Bispo e Nivalda (ambos de saudosas memórias). Os dias eram longos e, além das muitas brincadeiras, pescarias e desentendimentos com algumas crianças locais, tudo começava bem cedinho com o cheirinho de café.

Na minha adolescência na capital secreta do mundo, me recordo do meu primeiro emprego. Naquela época comecei a trabalhar bem cedo e lembro-me que na loja chamada “A Gaúcha”, éramos em três adolescentes com pouquíssimo juízo, porém com uma amizade forte à toda prova. Em determinadas épocas, havia muito trabalho e encarávamos tudo de frente, mas havia um momento mágico que parava toda produção: o cheirinho de café. Era um cafezinho medido por ser somente uma garrafa, dividindo um pouco para cada um, com direito a um pão doce de “chifrinho”, apelido dado por nós moleques pelo aspecto do pãozinho.

O tempo passou e agora jovem na cidade do Rio de Janeiro no internato do Seminário, onde morei por mais de 10 anos, a festa era diferente. Nos amontoávamos numa fila de mais de cem pessoas para entrar no refeitório e a única lei que havia era aquela dos mais fortes, pois era uma batalha para entrar no refeitório, se espremendo pela roleta e torcendo para não ficar apenas no cheirinho de café, pois quem chegava primeiro tomava o café e não ficava apenas na vontade. Quem nunca morou ou enfrentou refeitório de internato, não sabe a experiência que perdeu na vida.

Na minha vida profissional o cafezinho sempre fez diferença, pois todas as vezes que o cheirinho exalava pelos corredores da escola, era o momento do intervalo na sala de professores. O papo sempre era muito animado e me recordo que na Escola de Ecoporanga o intervalo era uma festa tão grande que os alunos ficavam curiosos tentando saber o quê estava acontecendo na sala dos mestres. Mas o cheirinho de café se transformava em sabor sempre acompanhado de batata doce cozida, aipim, inhames, banana da terra cozida e bolos de diversos sabores.

O tempo passou, mas ainda nos dias de hoje tenho a oportunidade de visitar a minha mãe, sentir o mesmo cheirinho e, ao mesmo tempo, experimentar o bom café que é feito na casa dela e que, de maneira mágica, na minha degustação vem o mesmo paladar e lembranças da infância.

Enquanto minha mente divagava em todas essas lembranças, minha condução chegou no local do meu trabalho, acordei como de um sonho e voltei à realidade. Segui como sempre faço todas as manhãs, tranquilo para minha luta diária, mas feliz por saber que no próximo final de semana sentirei e beberei um pouco da minha infância nas lembranças de um cheirinho de café.

É isso por hoje... é vida que segue!

 


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