Nandinho nasceu no interior de
Cachoeiro de Itapemirim, precisamente num lugar chamado Salgadinho – nome bem
estranho, mas as pessoas daquele lugar eram dóceis e receptivas.
Seu João, pai de Nandinho,
serviu o exército no Rio de Janeiro e, com saudades dos pais, voltou para
Salgadinho e se casou com dona Antonieta. Dessa união, nasceu Nandinho,
Andressa e Antônio, conhecido como Toninho.
Eles eram felizes em
Salgadinho, mas o lugar era pequeno e a família mudou-se para a cidade grande em
busca de novas oportunidades de trabalho e da possibilidade de dar uma vida
melhor às crianças.
Na cidade, chegou o tempo de
os meninos irem para a escola e foi nesse tempo que a casa se tornou um local
repleto de alegria. Seu João trabalhava muito, mas, quando chegava em casa, os
filhos saltavam um no pescoço e os outros dois um em cada perna.
Naquele tempo, criança pobre
não tinha o direito de fazer jardim de infância, mas entrava direto no 1° ano
do 1° Grau. Nandinho não era muito dado aos estudos, mas, quando entrou na
escola, já havia sido alfabetizado pela sua mãe, dona Antonieta!
Nandinho se saiu muito bem no
início dos seus estudos. Ele era um aluno responsável, estudava e nunca deixava
de fazer as tarefas de casa. O menino não dava nenhum trabalho para os seus
pais.
O tempo passou, Nandinho foi
avançando nos estudos e chegou o tempo de cursar a sexta série – foi aí que os
problemas do menino começaram. Ele conheceu Paulo, Cláudio e José Roberto e a
turma logo se identificou e foi sentar no fundão da sala. Os meninos aprontavam
terror na escola.
Naquela época, o diretor era
muito rígido, e a última coisa que os alunos queriam era cair nas mãos daquele
gestor, mas aqueles meninos não se importavam com nada. O negócio deles era
fazer bagunça!
Nos anos 70, o tempo das aulas
era menor, e havia uma professora muito rigorosa de matemática da turma de
Nandinho. Todos os dias ela enchia a lousa de exercícios para fazer em casa.
Normalmente, quando faltavam uns 10 minutos para terminar a aula, ela dizia: “Cláudio,
José Roberto, Paulo e Nandinho, no quadro-negro!”. Os demais alunos iam embora,
e os quatro ficavam com a professora por mais uma aula, fazendo todos os
deveres de casa na escola. Entretanto, o mais triste é que esses meninos não
mudavam.
A vida daqueles adolescentes
era uma festa sem fim, tudo era motivo de brincadeiras e, como havia um grupo
de alunos que gostava do show de horrores dos gaiatos, a festa sempre era
garantida. Até que, um dia, Nandinho deixou de fazer um desenho das cataratas
do Iguaçu. A professora de geografia o mandou para o inspetor, que conduziu o
menino até a sala do diretor. Este informou que, no dia seguinte, Nandinho só
entraria na escola acompanhado por um dos pais.
Nandinho ficou muito
preocupado, pois o seu pai trabalhava viajando e nem sempre estava na cidade e,
se a conversa fosse com a sua mãe, ela primeiro dava uma coça com a famosa
varinha de goiaba, e depois faria algumas ameaças para o menino. Porém, nem só
de azar vivem os bagunceiros, no dia seguinte foi a folga do Seu João e ele foi
à escola falar com o diretor.
Seu João foi muito bem recebido
pelo diretor, que o elogiou pelo fato de ser um homem trabalhador e
responsável, mas em seguida passou um sermão de mais de trinta minutos no
menino, que ficou muito envergonhado com a reprimenda do gestor. Ao chegar em
casa, o pai conversou com o menino na esperança de que ele melhorasse o seu
comportamento, mas o pedido daquele pai, estava longe de ser atendido.
Nos dois anos seguintes,
Nandinho continuou aprontando suas traquinagens junto aos seus amigos, mas,
como ele tinha muita vontade de trabalhar, conseguiu um emprego de meio
expediente e pediu na escola para que fosse transferido para o turno noturno. Porém,
a escola não permitiu, pelo fato dele ser muito novo. Depois de muito insistir,
finalmente, ao final da sétima série, permitiram que ele fosse transferido para
o noturno, mas isso só aconteceria no próximo ano.
No ano seguinte, lá foi o
Nandinho estudar no turno noturno. Tudo era muito diferente e aquele menino que
gostava de conversar e fazer bagunça, agora estava num grupo de pessoas que
trabalhavam o dia inteiro e chegavam cansadas para enfrentar cinco aulas, nem
sempre motivadoras. Nandinho se sentiu um peixe fora d'água e o seu coração
começou a entristecer.
Embora aquele menino sentisse
muitas saudades dos seus amigos do turno matutino, ele começou a se acostumar e
foi se soltando, não com aquela antiga alegria, mas como era o mais novo,
começou a ficar engraçadinho. Coisa do tipo: o bobo da sala! Tudo que o
professor ou algum colega falava era motivo de graça e até a turma se acostumou
com jeito moleque de ser de Nandinho. Ele só queria curtir a vida de
adolescente, na verdade, ele era um menino.
O tempo passou, e certa noite
Nandinho foi procurado por um amigo que lhe trouxe uma novidade: “tem uma moça
que está querendo namorar contigo e deseja conversar com você!”. Aquela notícia
caiu como uma bomba nos ouvidos do menino. Ele pensava em tudo: Correr no
pátio! Colocar fogo nos latões de lixos no retorno para casa após as
aulas, jogar lixo nas janelas das casas... Mas namorar não estava na lista de prioridades
dele!
Aquela notícia não estava nos
planos de Nandinho, mas ele pensou: “preciso demonstrar que não sou tão moleque
quanto pareço”. Juntou toda sua coragem e deixou claro que conversaria com a
moça e seria naquela noite. Seu coração saltava mais que as pulgas do seu
cãozinho, e ele precisava engolir seco várias vezes para que ele não saísse
pela boca.
No final da aula, a moça
esperava por Nandinho, e a casa dela ficava do outro lado da cidade. Eles foram
caminhando, passaram pela Praça Jerônimo Monteiro e chegaram na antiga estação
ferroviária subindo ao lado do prédio do sindicato dos ferroviários. Subiram um
pouco mais, até alcançarem uma escadaria que terminava diante da casa da moça.
Quando chegaram diante do
portão, Nandinho totalmente sem assunto, pois o seu repertório se acabara,
parou e ficou olhando para moça. Foram alguns minutos de trocas de olhares até
que, timidamente, ele pediu para beijá-la. Quando o beijo finalmente aconteceu,
Nandinho se lembrou que ele nunca havia beijado e, assustado, olhou bem para o
rosto da moça e praticamente desceu correndo as escadas da casa da moça,
voltando como um foguete para casa.
No dia seguinte, ao retornar
para sala de aula, Nandinho se escondeu o tempo todo de tanta vergonha e nem
sequer ergueu os olhos em direção à moça e praticamente não falou mais com ela,
pois o seu interesse maior naquele momento era jogar papel nas janelas das
pessoas e colocar fogo nos latões de lixos. Namorar ficou para mais
tarde, afinal, ele era um adolescente bem rebelde. Sua mãe não poderia nem
pensar nesse lado de travessuras da vida de Nandinho... mas como naquela época
as mães sabiam de tudo, acho que ela apenas o poupou de um boa surra.
Ah, o menino cresceu, se casou
e acho que amadureceu, mas quem sabe qualquer dia consigo descobrir esse
detalhe, afinal, agora ele é um homem que está na terceira idade. Espero que
ele não tenha perdido a alegria de viver, mas não coloque mais fogo em latões
de lixo.
É isso por hoje... é vida que
segue!!!
Qualquer semelhança é mera coincidência!!!! Kkkkk!!!!
ResponderExcluirNão entendi!!! Kkk kkk kkk
Excluir