Esse final de semana foi
especial, pois tive a oportunidade de trabalhar em Cachoeiro na sexta-feira,
acompanhando o nosso gerente em três excelentes visitas que, por certo,
renderão ótimos frutos. Como sou natural da capital Secreta do Mundo, resolvi
permanecer na cidade para visitar e passar um tempo com minha família.
Escolhi o final de semana
errado, isto porque fez um calor tão intenso que, confesso, por um tempo me
senti no Continente Africano. Só faltou o solo arenoso. Foram dois dias e meio
de sufoco e por pouco não trouxe minha mãe de volta para Vila Velha.
Saí no meio da tarde de domingo
para embarcar na rodoviária de Cachoeiro, na promessa de que o ônibus seria
direto, e prontamente me acomodei, feliz por saber que viajaria sozinho em duas
poltronas, era tudo que eu queria.
Foi uma viagem bem tranquila e
aproveitei o percurso para avançar na história de Aureliano Segundo, José
Arcádio Segundo, Úrsula e a bela dos Remédios, todos da família Buendía da obra
Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez.
Confesso que a história louca
dessa família está me prendendo de tal forma que a cada página quero ler a
seguinte, pois pretendo saber como tudo terminará. Quero apenas avançar na
leitura, pois o final me parece totalmente imprevisível.
Tudo corria muito bem, até que
o motorista fez a parada obrigatória na rodoviária de Guarapari e depois de
aproximadamente 05 minutos entraram dois senhores: o primeiro sentou-se duas
poltronas após a minha, no sentido contrário ao meu assento.
O segundo indivíduo chegou
revoltado e falando impropérios, fato que achei extremamente inconveniente,
pois haviam senhoras, crianças e homens idosos que não mereciam ouvir aquilo.
Não entendi bem a bronca daquele homem, mas a história era mais ou menos assim,
nas palavras dele: “quando tudo dá errado, a vida é uma droga”. Proferiu mais
alguns palavrões e insistia em reclamar da vida, aparentemente com uma dor
profunda.
Entre a morte de Aureliano
Buendía e as maldições lançadas pelo rapaz, fiquei dividido e pensei: vou falar
com ele. Pedi forças a Deus, pois nunca sabemos a reação de uma pessoa
revoltada. Nem eu sabia que tinha tanta fé, pois quando estava prestes a me
virar, ele disse: “vou parar de xingar pois isso, além de incomodar as pessoas,
não resolve nada”, e virou para lado e dormiu. A conclusão da viagem foi
tranquila!
O final de domingo em Vitória
é sempre muito interessante. Após vários meses sem passar pela rodoviária,
aproveitei e fui conversar com as meninas da Pastelaria do Nando, e como não
gosto de perder tempo, fui logo pedindo o meu pastel favorito, bacalhau com
queijo (que estava em falta), mas me contentei com o de carne-seca com
muçarela. Estava ótimo!
Era hora de tomar o rumo de
casa e fiz a opção que muitos estranham e acham que não tenho muito juízo. Fui
para o ponto de ônibus, pois queria apreciar o final de domingo na cidade de
Vitória. Embarquei numa condução que passou pelo Porto de Vitória e observei
bem de perto o movimento das águas profundas onde ficam os navios atracados,
para carga e descargas, e algumas vezes para visitação.
Por toda extensão da Avenida
Beira Mar, podemos observar do outro lado Vila Velha e, começando pelo Porto de
Capuaba, ao lado morro do Penedo, Ilha Maria de Oliveira e outras ilhas que
tornam a vista simplesmente linda.
Na medida que o veículo ia
avançando, do lado esquerdo observamos a Prefeitura de Vitória, um prédio que
aparenta não ser dos mais modernos. Do lado direito, passamos um longo muro do imponente
Clube de Natação e Regatas Álvares Cabral, local onde guardo belas recordações.
São lembranças de grandes shows, assembleias, passeatas e festas de trabalho
nos finais de ano.
Vencida essa etapa, passamos
pelo Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, que oferta ações de habilitação
e reabilitação às pessoas com deficiência visual e a promoção de sua integração
à vida comunitária, voltadas para o enfrentamento das barreiras pela
deficiência no meio em que vive. É muito comum passarmos pelo local sem notar o
suntuoso prédio e nem mesmo nos atentar à importância que o Instituto tem para
nosso Estado e milhares de pessoas.
No percurso, consegui ver de
longe a Igreja Batista Praia de Suá toda imponente e onde tive oportunidade de
trabalhar como professor no Seminário Bíblico de Vitória, que funcionava no
prédio anexo ao templo, fato que muito me honrou. Ali também tive muitos amigos
que por lá passaram e deixaram belas e profundas marcas na minha vida.
Mais adiante, passamos próximo
ao Horto Mercado e a minha memória afetiva nesse momento fez uma grande viagem,
mas a vida é sempre assim, como diz o poeta, dia e noite, não e sim, e chegamos
na Praça do Papa, lugar que além de reverência, guardo lembranças de excelentes
momentos.
Por ser domingo, o coletivo
fez um percurso diferente e passou em frente à Assembleia Legislativa, foi um
frisson de pessoas querendo entrar no ônibus. Por um momento pensei que estava
no Rio de Janeiro, pois foi um tal de subir gente com cadeira de praia, bolsas
e, pasmem, cachorros. Eram dois filhotes bem bonitos e o coletivo virou uma
grande festa.
Os cãezinhos trouxeram tanta
alegria no coletivo que, por pouco, deixei de apreciar a vista da baía de
Vitória, do alto da terceira ponte, a paisagem que contemplei ao longo da
Avenida Nossa Senhora dos Navegantes. Na metade da ponte, a imagem de final de
tarde do Convento da Penha na penumbra, em função dos últimos raios de sol no
seu ocaso, é simplesmente de encher os olhos.
Concluímos a travessia e após
deixar os meus olhos serem invadidos por tantas imagens bonitas, cheguei ao
terminal de Vila Velha e embarquei na próxima condução que me levou até a minha
casa, mas essa é uma outra história.
É o que temos para hoje... é
vida que segue!
Meu amigo Robertinho, sou seu fã, suas narrativas retratam a forma de olharmos diferente para nossa querida Capital, o que parece uma simples ida para casa, em sua apurada visão, torna-se uma leitura que desperta a curiosidade do leitor.
ResponderExcluirMuito obrigado, amigo!
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