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terça-feira, 8 de abril de 2025


NUMA BELA TARDE DE DOMINGO...

Esse final de semana foi especial, pois tive a oportunidade de trabalhar em Cachoeiro na sexta-feira, acompanhando o nosso gerente em três excelentes visitas que, por certo, renderão ótimos frutos. Como sou natural da capital Secreta do Mundo, resolvi permanecer na cidade para visitar e passar um tempo com minha família.

Escolhi o final de semana errado, isto porque fez um calor tão intenso que, confesso, por um tempo me senti no Continente Africano. Só faltou o solo arenoso. Foram dois dias e meio de sufoco e por pouco não trouxe minha mãe de volta para Vila Velha.

Saí no meio da tarde de domingo para embarcar na rodoviária de Cachoeiro, na promessa de que o ônibus seria direto, e prontamente me acomodei, feliz por saber que viajaria sozinho em duas poltronas, era tudo que eu queria.

Foi uma viagem bem tranquila e aproveitei o percurso para avançar na história de Aureliano Segundo, José Arcádio Segundo, Úrsula e a bela dos Remédios, todos da família Buendía da obra Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez.

Confesso que a história louca dessa família está me prendendo de tal forma que a cada página quero ler a seguinte, pois pretendo saber como tudo terminará. Quero apenas avançar na leitura, pois o final me parece totalmente imprevisível.

Tudo corria muito bem, até que o motorista fez a parada obrigatória na rodoviária de Guarapari e depois de aproximadamente 05 minutos entraram dois senhores: o primeiro sentou-se duas poltronas após a minha, no sentido contrário ao meu assento.

O segundo indivíduo chegou revoltado e falando impropérios, fato que achei extremamente inconveniente, pois haviam senhoras, crianças e homens idosos que não mereciam ouvir aquilo. Não entendi bem a bronca daquele homem, mas a história era mais ou menos assim, nas palavras dele: “quando tudo dá errado, a vida é uma droga”. Proferiu mais alguns palavrões e insistia em reclamar da vida, aparentemente com uma dor profunda.

Entre a morte de Aureliano Buendía e as maldições lançadas pelo rapaz, fiquei dividido e pensei: vou falar com ele. Pedi forças a Deus, pois nunca sabemos a reação de uma pessoa revoltada. Nem eu sabia que tinha tanta fé, pois quando estava prestes a me virar, ele disse: “vou parar de xingar pois isso, além de incomodar as pessoas, não resolve nada”, e virou para lado e dormiu. A conclusão da viagem foi tranquila!

O final de domingo em Vitória é sempre muito interessante. Após vários meses sem passar pela rodoviária, aproveitei e fui conversar com as meninas da Pastelaria do Nando, e como não gosto de perder tempo, fui logo pedindo o meu pastel favorito, bacalhau com queijo (que estava em falta), mas me contentei com o de carne-seca com muçarela. Estava ótimo!

Era hora de tomar o rumo de casa e fiz a opção que muitos estranham e acham que não tenho muito juízo. Fui para o ponto de ônibus, pois queria apreciar o final de domingo na cidade de Vitória. Embarquei numa condução que passou pelo Porto de Vitória e observei bem de perto o movimento das águas profundas onde ficam os navios atracados, para carga e descargas, e algumas vezes para visitação.

Por toda extensão da Avenida Beira Mar, podemos observar do outro lado Vila Velha e, começando pelo Porto de Capuaba, ao lado morro do Penedo, Ilha Maria de Oliveira e outras ilhas que tornam a vista simplesmente linda.

Na medida que o veículo ia avançando, do lado esquerdo observamos a Prefeitura de Vitória, um prédio que aparenta não ser dos mais modernos. Do lado direito, passamos um longo muro do imponente Clube de Natação e Regatas Álvares Cabral, local onde guardo belas recordações. São lembranças de grandes shows, assembleias, passeatas e festas de trabalho nos finais de ano.

Vencida essa etapa, passamos pelo Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, que oferta ações de habilitação e reabilitação às pessoas com deficiência visual e a promoção de sua integração à vida comunitária, voltadas para o enfrentamento das barreiras pela deficiência no meio em que vive. É muito comum passarmos pelo local sem notar o suntuoso prédio e nem mesmo nos atentar à importância que o Instituto tem para nosso Estado e milhares de pessoas.

No percurso, consegui ver de longe a Igreja Batista Praia de Suá toda imponente e onde tive oportunidade de trabalhar como professor no Seminário Bíblico de Vitória, que funcionava no prédio anexo ao templo, fato que muito me honrou. Ali também tive muitos amigos que por lá passaram e deixaram belas e profundas marcas na minha vida.

Mais adiante, passamos próximo ao Horto Mercado e a minha memória afetiva nesse momento fez uma grande viagem, mas a vida é sempre assim, como diz o poeta, dia e noite, não e sim, e chegamos na Praça do Papa, lugar que além de reverência, guardo lembranças de excelentes momentos.

Por ser domingo, o coletivo fez um percurso diferente e passou em frente à Assembleia Legislativa, foi um frisson de pessoas querendo entrar no ônibus. Por um momento pensei que estava no Rio de Janeiro, pois foi um tal de subir gente com cadeira de praia, bolsas e, pasmem, cachorros. Eram dois filhotes bem bonitos e o coletivo virou uma grande festa.

Os cãezinhos trouxeram tanta alegria no coletivo que, por pouco, deixei de apreciar a vista da baía de Vitória, do alto da terceira ponte, a paisagem que contemplei ao longo da Avenida Nossa Senhora dos Navegantes. Na metade da ponte, a imagem de final de tarde do Convento da Penha na penumbra, em função dos últimos raios de sol no seu ocaso, é simplesmente de encher os olhos.

Concluímos a travessia e após deixar os meus olhos serem invadidos por tantas imagens bonitas, cheguei ao terminal de Vila Velha e embarquei na próxima condução que me levou até a minha casa, mas essa é uma outra história.

É o que temos para hoje... é vida que segue!

 



2 comentários:

  1. Meu amigo Robertinho, sou seu fã, suas narrativas retratam a forma de olharmos diferente para nossa querida Capital, o que parece uma simples ida para casa, em sua apurada visão, torna-se uma leitura que desperta a curiosidade do leitor.

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