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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022


HISTÓRIAS DE VIDAS NUMA CANECA DE CHÁ!

O ano de 2014, foi de profundas mudanças na minha vida. Deixei o meu estado e viajei à cidade do Rio de Janeiro para passar por um treinamento de 04 (quatro) meses em tempo integral. Foi uma experiência agradável e confesso que tenho saudades dos bons tempos de aprendizagem.

Quase um ano depois, após viajar por algumas partes do Brasil, iniciei os preparativos para o grande dia, que seria a minha viagem para o Continente Africano, precisamente Dakar, Senegal. Tudo certo, malas prontas, passaporte e atestado de vacinação em dia, só restava esperar o momento da viagem.

Quando deixei Cachoeiro, minha terra natal, fiquei com meu coração totalmente dividido. Uma amiga foi me deixar na rodoviária e não tive coragem de olhar para trás quando me despedi dos meus entes queridos. Deixei mãe, irmãos e sobrinhos e parti para uma das maiores experiências de minha vida.

Finalmente chegou o dia 17 de agosto e por volta das 11h (onze) da manhã, voei para São Paulo. Lá, fiquei esperando o voo que sairia às 23h40min e me levaria até Joanesburgo, África do Sul, naquele domingo de tempo bem enfumaçado tanto no Rio, como em São Paulo.

Foi uma viagem tranquila até a África do Sul e como faria uma conexão naquele país e ficaria por cerca de quase 05 (cinco) horas esperando, aproveitei o tempo para andar pelo aeroporto para sentir e respirar um pouco da cultura da terra de Nelson Mandela. Foi uma experiência muito agradável ouvir as músicas melodiosas que entravam pelos meus ouvidos e atingiam o meu coração, mexendo com as minhas emoções.

No final da tarde, embarquei para uma viagem de mais nove horas, saindo do sul da África, para cortar todo o continente e chegar a Dakar, capital do Senegal, no dia 19 de agosto, precisamente 02h (duas) horas da manhã, totalmente exausto e meio que perdido no tempo em função do fuso horário. Minha cabeça estava confusa.

Sair do aeroporto de Dakar foi um grande problema. Uma das malas com materiais do PEPE, foi extraviada e acabei ficando mais de duas horas preso no aeroporto, esperando que o objeto fosse encontrado. Como a procura fora improdutiva, acabei deixando o contato de uma colega missionária que morava mais próximo do local, e finalmente, deixei o saguão do aeroporto.

Minha primeira reação ao chegar no pátio aberto é de que estava entrando num grande forno, tamanho o calor que fazia naquele país. Enquanto passava pelo corredor humano de senegaleses, nigerianos e gente de muitas outras nacionalidades, oferecendo-se para trocar a moeda estrangeira pela nacional, visualizava ao longe duas pessoas que se tornariam grandes amigos: Dr. Humberto e José Ricardo, conhecido carinhosamente como Ricardo.

Vencida aquela etapa da chegada e acomodado no carro missionário do Humberto, fui levado até o apartamento missionário de passagem que seria o meu lar pelos primeiros cinco meses. Era tudo muito diferente e assim que entrei no local, recebi de presente um croissant, gentilmente guardado pelo radical Jean. Tomei um banho, fiz um lanche, fui levado ao meu quarto, deitei e senti, finalmente, após dois longos dias de viagem, cheguei... relaxei e adormeci.

Nos meus primeiros momentos no Senegal, recebi toda atenção do Ricardo, me levando aos lugares que eu precisava conhecer para providenciar os documentos necessários de permanência no país. Foram momentos preciosos para um sujeito que não tinha muito conhecimento da cultura africana.

Conviver com o Ricardo nunca foi difícil, pois além de ser um profundo conhecedor da diversidade da cultura africana, ele sempre teve um temperamento de homem de paz e também uma profunda e longânime paciência com uma pessoa recém-chegada em um país onde tudo era absolutamente diferente. Era preciso muita paciência!

Ricardo morava em Saly, local que ficava aproximadamente três horas de distância de Dakar, e lá ele cuidava do PEPE Dund Gi = (que significa vida na língua olof), mas ainda assim, sempre tirava um tempo para estar nos encontros dos missionários as terças e claro, eu não poderia deixar passar a oportunidade de ouvir suas experiências no Continente Africano.

Após um tempo vivendo em Dakar estudando francês, chegou o momento de arrumar as malas para morar em Saly e conhecer de perto o funcionamento do PEPE. Tudo pronto! Fiz uma viagem tranquila e finalmente me instalei na casa do meu amigo e assim, comecei a me acostumar com minha nova rotina. Ricardo, o bom anfitrião.

Quando cheguei em Saly, conheci de fato o trabalho que era realizado pelo meu amigo, confesso que fiquei impressionado com sua dedicação às crianças, pais e professoras no PEPE e em especial, o cuidado com a Igreja que ele pastoreava. Ricardo, o líder e pastor.

Em todos os momentos de trabalho no campo senegalês diretamente com o meu amigo, sempre me recordo de vê-lo desenvolvendo suas atividades com garra, seriedade, sentimento de urgência e excelência em tudo que fazia que me impressionavam. Ricardo, o trabalhador por excelência.

Naquele tempo, tivemos muitas conversas sobre a vida, família, campo e tive oportunidade de aprender a encarar a vida com mais simplicidade e tentei aprender a fazer com que as mais difíceis tarefas em missões parecessem fáceis, mas essa lição era bem complicada. Ricardo, o homem da simplicidade.

Chegou o tempo da formatura das crianças do PEPE, em Mbour. Houve uma grande movimentação. Qual tecido será escolhido? Para onde os pepitos irão após a formatura?  Os pais amavam o PEPE e não queriam que as crianças fossem para outra escola, imploravam para que a igreja abrisse a primeira etapa do ensino fundamental. Você não tem ideia do que significa isso num país de maioria muçulmana. Ricardo, o adorável educador.

Como parte do meu treinamento, fui com o Ricardo ao Mali, país que fica ao norte do Continente, conhecer e participar de um treinamento na Igreja da amiga missionária Verinha. Durante uma semana, vi um professor dando formação das 08h (oito) horas da manhã até às 17h (dezessete) horas com, literalmente, uma hora de almoço de segunda a sexta. Ricardo, o coordenador incansável do PEPE.

Não posso deixar de mencionar que muitas vezes quando chegávamos da igreja ou mesmo no apartamento onde morávamos, em Dakar, o amigo perguntava: “posso fazer alguma coisa para comermos? ” Meu coração saltava de alegria, pois não sabia o que ele arranjava porque em menos de uma hora (eu levaria pelo menos três horas) tinha comida pronta e com aquele sabor africano que somente provando para você entender. Ricardo, o master chefe preferido de todos os missionários.

O tempo passou e quando já estava no Togo, tive a honra de recebê-lo para ministrar um treinamento com os nossos professores togoleses e como não poderia deixar de ser, foram quatro dias de trabalho intenso. Houve um atraso de um dia na viagem, porém o trabalho e aproveitamento foram fantásticos e vivemos um grande amadurecimento dos nossos professores. Ricardo, o professor da superação.

Depois dessas experiências, tive aquela que muito marcou a minha vida, pois se deu a milhares de quilômetros do Senegal e do Togo, foi em Porto Alegre, Rio Grande do Sul no dia 9 de janeiro de 2016, quando tive a honra de ser o padrinho de casamento de Ricardo e Denise. Carrego comigo para sempre esse orgulho e posso afirmar que não é pecado.

Meu querido amigo, sei que os últimos tempos foram e têm sido de muitas lutas e desafios, mas como você dizia nas nossas conversas: “é preciso viver a cada dia com fé. Nossa fé, a fé dos amigos, fé dos parentes, fé da esposa, fé de um grande grupo que nunca vamos conhecer com os nossos olhos carnais, mas podemos vê-los com os olhos da fé, se é que fé tem olhos.”

Sou grato a Deus por sua vida. Sou grato pela simplicidade como você sempre viveu e nunca se ufanou por ser um veterano no campo, mas me tratou com paciência e compartilhou experiências que somente pessoas seguras e firmes partilhariam.

Sou grato a Deus, por saber que você contribuiu e ainda tem muito a contribuir em favor das nossas crianças africanas, brasileiras e de diversas partes do mundo. Sei que você carrega as marcas desse amor incondicional aos pequeninos e que jamais sairão do seu coração.

Não posso deixar de mencionar que nós que tivemos o prazer de conviver contigo, jamais esqueceremos a sua simplicidade, o seu carinho e respeito com o próximo. Minha vida foi marcada por algumas pessoas no Continente Africano, mas saiba que você e Denise têm um lugar todo especial no meu coração e com certeza no coração de muitas pessoas.

Nunca se esqueçam... amo vocês.

É isso por hoje... é vida que segue.

 

9 comentários:

  1. Que palavras tão lindas! Muito obrigada!

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  2. Vida inspiradora... Obrigada por compartilhar!

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  3. Linda homenagem.
    Bom conhecer um pouco de sua história e ministério, pois tb somos de Cachoeiro Itap., mas estamos fora há anos. Mas o familiares e nosso ❤️❤️ estão.
    Deus o abençoe.

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  4. Parabénns pastor,Deus abençõe sua vida,uma mensagem linda e edificante.

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  5. Pastor parabéns,conhecer com profundidade sua historia é uma liçao de dedicação e entrega ao serviço do Senhor, vivendo no Senhor e falando do único que é capaz de nos ensinar a depender Dele.

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  6. Parabéns pastor por esse trabalho maravilhoso que foi feito lá cumpriu a sua promessa que Deus te designou e hoje continua vivendo sua vida com prazer de servi a Deus! Que Deus continua te abençoando!!

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  7. Deus continue abençoando este casal que certamente também foram abençoados por você!

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  8. Esse é o amigo Ricardo! Confirmo tudo o que o pastor Roberto compartilhou com riqueza de detalhes. Tivemos juntos bons momentos em Senegal. Resumo Ricardo em algumas palavras: simplicidade, amigo verdadeiro, sinceridade e excelência no que faz.

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  9. Esse é o amigo Roberto, pessoa ímpar, Alegre de sorriso largo e coração grande.Tive o prazer de conhecer a alguns anos atrás e nessa época ficou uma frase que só nos entendemos e que vem nós acompanhando até hj " Escolheu está escolhido e não pode ficar arrependido".
    Um amigo cantor que quando sola uma música africana, meu coração bate forte, parece que estou flutuando e agradeço a Deus por tudo e por estar ali naquele momento.
    É menino Roberto você é muito especial
    Como é prazeroso dividir alguns momentos do meu viver com você.

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