O Caso do Guarda-chuva
Era uma daquelas noites
chuvosas na cidade do Rio de Janeiro e ao sair do culto na Primeira Igreja
Batista em Manguinhos, fui em direção ao ponto de ônibus torcendo para que o
ônibus passasse logo, pois estava com fome, frio e a chuva incomodava.
Entrei no veículo e como era
de costume, dei uma olhada de inspeção tentando localizar algum indivíduo com
atitude suspeita e após aquele exame, ocupei meu lugar no assento estratégico. Acredito
que adormeci e quando abri os olhos já estava na Tijuca.
Desci do ônibus bem ao lado
da Igreja Santo Afonso, atravessei algumas ruas até chegar à praça Saens Peña,
praticamente vazia pelo horário e logo estava diante do Shopping 45, o maior da
Tijuca, na época.
Ao lado do shopping que já
estava fechado pelo horário, ficava uma loja do BOBS, minha parada predileta. Entrei
e notei que no local havia poucas pessoas. Pedi meu lanche e deixei o meu
guarda-chuva no balcão auxiliar que ficava na parede de frente, considerando
que a loja era bem estreita.
Percebi que entrou um rapaz
com uniforme cor de abóbora bem forte, foi ao banheiro e assim que saiu, pegou
o meu guarda-chuva e evadiu-se da loja. “Olhe para trás” pensei no momento em
que ele saiu. Logo vi que o meu guarda-chuva havia desaparecido.
Os atendentes me conheciam
muito bem, então não pensei duas vezes e pedi a eles para tomarem conta do meu
lanche, pois eu havia sido roubado.
Saí imediatamente do Bobs e
fui atrás do indivíduo. Não fiz nenhum ruído, porém fui rápido o suficiente
para alcançá-lo, sorrateiramente, como um animal preste a dar um bote. Ele se
preparava para abrir o objeto roubado, mas dei um salto, tomei o guarda-chuva e
gritei: você me roubou e vou chamar “os homens” (policiais), para te
pegar.
O susto que o sujeito tomou
foi tão grande que ele atravessou a rua General Roca numa velocidade de fazer
inveja a Usain Bolt. Confesso que fiquei com inveja da explosão muscular do
rapaz.
Voltei ao Bobs totalmente
transtornado, aparentemente sem nenhuma gota de sangue no rosto, com os olhos
arregalados e fisionomia de desesperado.
Meus amigos da loja
perguntaram o que havia acontecido e totalmente trêmulo, quase sem conseguir
falar, disse que havia sido assaltado e corri atrás do ladrão, mas consegui recuperar
meu guarda-chuva. Logo, providenciaram água e confesso que aquele lanche desceu
com extrema dificuldade.
Passado o susto, mas com
medo do que poderia vir acontecer, me vi diante de um novo problema, chegar à
casa tendo que subir por toda rua Desembargador Izidro e ainda subir a colina
para chegar no internato.
Deixei o Bobs olhando para
todos os lados, sinalizei para um táxi e pedi que me levasse até à praça da
maledicência (isso é outra história), no Seminário.
Aprendi naquela noite que não vale a pena reagir a um assalto e muito menos cometer a loucura de sair correndo atrás do ladrão. É certo que agi por impulso, mas compreendi que só temos a perder com tal atitude. O desfecho poderia ter sido totalmente diferente e muito provavelmente não estaria aqui contando essa história.
É isso por hoje... é vida
que segue!!!