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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025


Que diferença faz!

Comecei o dia, como sempre, animado para enfrentar mais uma jornada de trabalho que prometia ser para lá de animada... que diferença faz!

Levantei, tomei meu banho, dei uma olhada discreta no resultado do jogo entre o Timão e o Cruzeiro e fiquei admirado com a derrota da Raposa... que diferença faz!

Resolvi olhar da janela da sala para o estacionamento. Caía uma chuvinha marota, e imaginei que o dia seria chuvoso. Errei feio: o sol chegou escaldante e fatigante... que diferença faz!

Ao chegar no ponto de ônibus, surgiu a primeira dúvida: vou de 606 ou 610? Para resolver de uma vez por todas, escolhi o segundo — e a escolha foi acertada. Os dois chegaram atrasados, mas o meu veio à frente por alguns segundos. Pelas palavras nada elogiosas dirigidas ao motorista, não gostaria de estar no lugar dele... que diferença faz!

Na Lanchonete Caldo de Cana, a resenha começou mais triste, pois uma de nossas amigas perdeu sua mãe na segunda-feira e estava chorosa. Nós nos desdobramos para consolá-la... que diferença faz!

Minhas amigas da segunda rodada de papo chegaram. Duas moram em Vila Velha e a mais brava das três mora na Serra. São pessoas queridas e adoráveis... que diferença faz!

No trabalho, era preciso atender a uma demanda do Tribunal de Contas para fechar o ano e, depois de uma manhã de trabalho intenso, consegui fechar o relatório com a Dany, que é uma mistura de força, jovialidade e determinação envolta em bondade. Depois, o trabalho foi aprovado pela Bruna, líder de nossa equipe, e finalmente enviado ao setor demandante... que diferença faz!

Chegou o momento de voltar para casa e minha amiga Zezé me deu uma carona até a Praça do Papa, pois resolvi atravessar a Baía de Vitória de barca, incentivado pelas minhas amigas do café da manhã... que diferença faz!

Sentei-me na parte superior da embarcação, bem na janela, e fotografei de todos os ângulos tudo que tinha direito. Muito rapidamente chegamos à Prainha, em Vila Velha... que diferença faz!

Desci da barca e logo fui seduzido pelo brilho da ornamentação de Natal de Vila Velha. Está um espetáculo, com belos shows de luzes que encantam crianças e adultos — todos querendo guardar lembranças do Natal de 2025... que diferença faz!

Atravessei lentamente os corredores iluminados, passei pela Capela da Prainha, entrei no coletivo e, em menos de vinte minutos, já estava em casa... que diferença faz!

Ter amigos; viver uma vida intensa de serviço ao próximo; proferir palavras que toquem e edifiquem; usar de bondade com amigos, parentes e familiares; e nunca se esquecer de ser grato a Deus pelo dom da vida... que diferença faz!

É isso por hoje... que diferença faz!

É a vida que segue...

domingo, 23 de novembro de 2025

“Sim, Deus é por nós! Quem nos vencerá? Dar-nos-á o poder real...”
(Frase do Hino 454 do Cantor Cristão na Homenagem aos oitenta e oito anos de Dona Maria Gomes, nossa querida mãe.)

Sábado, vinte e dois de novembro, foi um dia histórico para nossa família, pois o fato aconteceu numa segunda-feira do ano de 1937, na Parada Ferroviária de Coronel Benjamin — um pequeno lugarejo que ficava entre Cachoeiro e Vargem Alta, pela estrada de ferro da antiga Leopoldina. Ela foi a terceira dos nove filhos e filhas de Hermenegildo e Nair Silva.

Normalmente, o tamanho das famílias naqueles anos era bem diferente dos dias de hoje e, à medida que os meninos e meninas cresciam correndo pelos campos, atravessando o rio pelas pinguelas e andando perigosamente pelas estradas de ferro, seu pai adoeceu e, depois de alguns dias, veio a falecer. Nessa época, Maria já era casada.

Os anos se passaram, e Maria Gomes, juntamente com seu esposo e seus dois filhos à época, fixou-se em Cachoeiro de Itapemirim, cidade conhecida como “capital secreta do mundo”. Eu, que vos escrevo, nasci na Parada de Coronel Benjamin — local próximo ao distrito de Vargem Alta, onde fui registrado e que, mais tarde, tornou-se município.

Os anos da nossa infância — dos meus irmãos e da minha — não foram muito fáceis, pois, naqueles dias, nossa mãe fazia tudo pelos filhos e lutava contra enfermidades, enquanto nosso pai trabalhava viajando pela Leopoldina entre Cachoeiro, a cidade de Campos, no Estado do Rio, e nossa capital, Vitória.

Com a chegada da adolescência, os problemas de saúde de minha mãe se avolumaram, mas ela prosseguiu firme na criação de seus quatro filhos. Foi então, na virada dos anos 70, que nossa mãe conheceu Jesus como Salvador e Senhor de sua vida. E foi nesse tempo que as coisas começaram a mudar.

Foi um verdadeiro milagre de Deus na vida dessa grande mulher. Sua saúde começou a melhorar à medida que ela se aprofundava na vida cristã, e novos ares passaram a soprar sobre sua existência. Aquela mulher frágil tornou-se forte e serviu em sua querida igreja por mais de 40 anos, no ministério conhecido como Mulheres Cristãs em Ação.

Maria aprendeu, desde o início de sua caminhada cristã, a servir — e isso ela fez por muitos anos: cuidando da família, especialmente de seu esposo, por aproximadamente vinte anos; visitando e ajudando vizinhos e irmãos; demonstrando amor ao próximo; levando sempre uma palavra de consolo e ânimo aos desesperançados.

O tempo passou. Vieram grandes vitórias e, no roteiro da vida, vieram também as perdas. Ela soube viver e atravessar, não sem sofrimentos, todos esses ciclos que, aos poucos, vão solapando as reservas de forças. Chega um momento em que, literalmente, nos resta viver pela fé — e isso minha mãe tem feito ao longo dos últimos anos.

Neste dia vinte e dois de novembro, tivemos a oportunidade de acompanhar Maria completando oitenta e oito anos de vida, reunindo a família que nos foi possível estar presente. Na semana do aniversário, ela pôde encontrar filhos, netos e conhecer sua bisneta Maria — o que lhe trouxe imensa alegria.

No velho e amado Cantor Cristão, temos o hino 454, que diz: “Temos por lutas passado, umas temíveis e cruéis; mas o Senhor tem livrado delas os seus servos fiéis...” Esse hino retrata bem a vida de nossa querida mãe ao longo de todos esses anos. Deus tem sido por ela, por nós — e quem nos vencerá?

Somos gratos a Deus por saber que, nesses oitenta e oito anos, os inúmeros bebês apresentados por ela no púlpito da Igreja do Aquidabã estão hoje espalhados pelo Brasil e até fora dele. Agora, ela é bisavó de crianças que assim a chamam — e confesso que isso enche e aquece meu coração ao ver o quanto Deus foi fiel com esta mulher.

Somos gratos a Deus, pois nossa mãe nunca deixou de observar e confiar nos infinitos planos do Senhor, que nortearam sua vida, alcançaram a vida do nosso saudoso pai e foram fundamentais na criação de seus seis filhos, netos, bisnetas, irmãos, irmãs, sobrinhos e amigos.

Somos gratos a Deus, pois Maria pertence a um grupo de mulheres da Igreja Batista do Aquidabã que não somente viveram, mas escreveram a história daquela agência de pregação do Reino de Deus. Rogamos para que continue realizando a missão dada por Jesus e recebida pelos nossos antepassados com alegria e dedicação ao trabalho.

Ontem foi dia de reconhecimento pela bondade do Senhor. Estamos no tempo de continuar pedindo que as misericórdias de Deus permaneçam sobre a vida de nossa mãe, de todos os nossos familiares e amigos.

É isso por hoje... É vida que segue!

 



domingo, 16 de novembro de 2025


Encontros e reencontros...

Foi um saboroso final de sábado no bairro Morada de Laranjeiras, no município da Serra, Espírito Santo. Depois de vários meses e promessas de visitas, finalmente conseguimos reunir uma parte da família.

Foi encontro de gerações e, para variar, muitas histórias vividas e relembradas com muito carinho. Não contamos com a presença do tio Francisco, pois ele estava viajando para socorrer outra parte da família. As famílias antigas são enormes...

Foi um tempo de relembrar histórias do menino que levava marmita ao ponto de ônibus, próximo ao Cine Broadway, para o tio Francisco pegar no coletivo que passava na Marbrasa...

Lembranças do tempo em que o menino, sempre miudinho, acordava cedo para ir à Santa Casa de Misericórdia fazer algum exame ou pegar alguma encomenda e, ao final, era presenteado com café e biscoitos Maria. Naquele tempo, comer biscoitos era coisa muito fina...

Foram momentos de rememorar os tempos de militância pelos ideais de classe como estudantes e professores, e das peripécias da juventude na igreja — mas sempre do lado dos menos favorecidos ou daqueles quase sem voz nenhuma...

Quem visita casa de músicos naturalmente não pode ficar sem música de altíssima qualidade — e, nesse caso, com a minha querida prima, cantora, compositora e exímia violonista, Flavinha, que na intimidade é chamada carinhosamente de Guingo...

O ambiente exalava uma conversa gostosa sobre o direito das mulheres de batizar, projetos saindo do forno, música nova rolando na sala e, ao fundo, o som do baixo “escapando” através dos acordes vindos do quarto, fruto dos retoques finais do primo Júnior para sua apresentação no show da noite. Isso é que é vida...

Depois de revisitar histórias do passado e do presente e fazer alguns registros fotográficos de zoeira com mamãe e tia Babá (para Fabiane), encerramos a visita — mas antes rolou um maravilhoso café com um bolo de banana dos sonhos, levado por tia Dulce e Pollyana. Confesso que ficou registrado na minha memória gustativa...

Ao final da visita, pastor que se preza termina com um momento de oração em família — e foi delicioso. São esses encontros que, particularmente, me fazem refletir sobre a importância da família num tempo em que as pessoas estão se afastando por motivos que merecem um outro texto.

É isso por hoje... é vida que segue!!!

domingo, 9 de novembro de 2025


Lições que tenho aprendido com a vida...

Nunca deixe de reconhecer tudo aquilo que as pessoas fizeram para que você chegasse um pouco mais longe na sua caminhada.

Nunca deixe de demonstrar gratidão pelas pequenas coisas que recebeu de alguém, pois isso revela carinho e afeto.

Nunca tome decisões sozinho sobre assuntos que envolvem toda uma comunidade; seja claro e transparente para evitar ruídos na comunicação.

Nunca se afaste das pessoas sem antes tentar resolver as tensões, pois a probabilidade é de que elas aumentem ao longo da caminhada — e, quando você reencontrar aquela pessoa, talvez já não seja mais possível curar as feridas que foram abertas.

Nunca deixe de dar ao outro a oportunidade de dizer o que pensa, pois esse pode ser o melhor caminho para que você também expresse o que passa em seu interior, e juntos encontrem soluções para problemas que pareciam insolúveis.

Nunca deixe de ajudar alguém apenas porque se desiludiu com as últimas pessoas com quem caminhou. Lembre-se sempre de que as pessoas são diferentes.

Nunca perca a sua essência por ter se decepcionado com a humanidade, pois mesmo em meio a uma multidão é possível encontrar alguém que volte para agradecer — tal como aquele único leproso que retornou para agradecer a Jesus, quando dez foram curados.

Nunca permita que a tristeza invada e tome conta do seu coração, ainda que o cenário ao redor pareça de ruínas. Não deixe morrer a esperança de que dias melhores virão. Um dia, todo o sofrimento será passado — aqui, ou quando você alcançar a liberdade plena de um corpo livre dos males que o aprisionam.

Nunca se esqueça: por mais solitária que pareça ser a sua luta, você nunca está sozinho. Aquele que guarda Israel apenas pede que levantemos os nossos olhos para os montes, pois de lá virá o nosso socorro.

Nunca se esqueça de que o nosso socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra, e que nunca dorme. Ele luta conosco as nossas batalhas e nos ajuda a compreender aquelas em que só precisamos descansar — pois o resto Ele fará, e tudo o que Ele faz é bom.

Não podemos esquecer as palavras do Salmo 91:1-2: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.”

Diante de tão poderosa Palavra, só nos resta buscar o descanso reparador de que nossas almas tanto precisam.

É isso por hoje... é vida que segue!

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025


Férias, pra que te quero!

Sair de férias é sempre bom, especialmente quando o ano de trabalho foi corrido, cheio de desafios e, em alguns momentos, assustador — afinal, ter uma síncope em plena manhã diante dos seus colegas, confesso, não foi nada agradável. 

Depois de uma espera de doze meses, finalmente chegou o fim de semana que antecedeu o primeiro dia de férias. Cheguei da igreja no domingo à tarde, sentei no sofá, acomodei os pés sobre uma superfície macia e fiquei na posição de quem vai tirar um cochilo ali mesmo, até cansar — e só então ir para a cama. Assim fiz. Por volta das dez da noite, segui para o quarto com a intenção de acordar por volta das nove da manhã.

Naquele domingo aconteceu o jogo do Vasco contra o São Paulo e, por algum pressentimento nada agradável, resolvi não assistir. Fiz o que normalmente faço: dormi e deixei pra saber o resultado no dia seguinte. Ainda bem que meu sexto sentido não falhou — o Vasco perdeu!

A noite foi tranquila, mas eis que, por volta das quatro da manhã, acordei contra a minha vontade. Tentei tirar a prova dos nove e concluí que estava realmente desperto. Fiquei pensando no que poderia ter acontecido, até que me lembrei do tal relógio biológico. Ele não falha!

Fico me perguntando o porquê da existência desse relógio biológico. Ele atrapalha quando você sai de férias, pois o corpo demora a se acostumar aos novos horários e não permite que você fique na cama até mais tarde. Mas o pior é que, quando as férias acabam e você precisa acordar cedo novamente, o “sujeito” resolve trabalhar contra você.

Fico imaginando como seria o mundo sem relógio biológico. Seria possível levantar à meia-noite, sentar-se à mesa e dizer: “Vou almoçar!” Mais tarde, por volta das duas da tarde: “Vou jantar.” O café da manhã poderia ser por volta das seis da noite. A sociedade seria totalmente diferente. Pensando bem, seria curioso — mas o único problema seria adaptar tudo isso à rotina do trabalho.

Nas primeiras horas do dia, resolvi organizar livros, apostilas e papéis soltos, já que preciso entregar o apartamento em dezembro e fazer uma verdadeira mágica para acomodar tudo em Cachoeiro. Essa é uma das tarefas mais difíceis, pois tenho o hábito de trabalhar em um ritmo muito próprio. Posso levar dias arrumando minha biblioteca, porque, a cada livro que encontro, paro, sento, folheio e leio algumas páginas. Trabalho em ritmo de férias — e, nesse caso, totalmente livre de ansiedade.

Ao cair da tarde, foi preciso fazer uma pausa para correr até o ensaio do Coral Viva Você, na capital, que foi maravilhoso. Depois do ensaio, só me restou voltar ao meu trabalho de embalador de mudança.

É isso por hoje... a vida segue!


domingo, 2 de novembro de 2025


Diário de um passageiro de ônibus...

O dia amanheceu após uma noite não muito bem dormida, pois acho que meu organismo está se preparando para ficar trinta dias em outro ritmo.

Desci, como sempre faço, pisando com firmeza em cada um dos degraus, com minha inseparável mochila nas costas e, na minha mão dominante, uma sacola de lixo para deixar no local de descarte que fica entre dois prédios e ao lado da administração.

Assim que deixei aquele local, fui caminhando pela praça principal do condomínio, que agora estava em completo silêncio, após um sábado movimentado por conta da inauguração de um minimercadinho 24 horas. Foi uma grande festa — e até eu, que sou praticamente um hóspede na minha própria casa, pois chego apenas para dormir e saio pela manhã antes do sol nascer, parei na barraquinha de pipoca, fui servido por uma criança e festejei com o grupo.

Passei pelo contêiner, cheguei à portaria e cumprimentei a dupla de simpáticos porteiros que estavam à frente do prédio. Conversamos amenidades e segui para o ponto de ônibus. Lá encontrei um colega carioca e, por incrível que pareça, até aquele momento não falamos do Rio de Janeiro.

O coletivo chegou com um motorista mais animado, mas que ainda assim insistia em parar nos sinais vermelhos, mesmo em ruas sem movimento às cinco da manhã. (Não se esqueçam: eu gosto de aventura!)

A viagem seguiu tranquila até o momento em que passamos por um bar lotado de pessoas dançando despudoradamente, ocupando parte da avenida. Logo me lembrei da época em que morava na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro — era comum ver essa cena nas madrugadas de segunda-feira, quando eu me deslocava para o trabalho. Chegamos, enfim, ao terminal de Vila Velha.

O segundo trecho foi bem tranquilo e, como sempre, passar pela Terceira Ponte observando a Baía de Vitória é um espetáculo. Quero aproveitar as minhas férias para dar umas voltas de barco e olhar as cidades de outros ângulos. A única intercorrência foi uma senhora que entrou no aeroporto com praticamente uma mudança, o que atrasou a viagem e me fez perder o ônibus que me levaria até a Padaria Sansil.

Como diz o ditado: “não adianta chorar pelo leite derramado”. Sendo assim, vamos observar as pessoas. Sempre me sento em um dos bancos, mas dessa vez resolvi ficar no local da parada, pois a visão é melhor. A senhora da mudança estava sentada a pouco mais de quinze metros de onde eu estava. Confesso que temi a possibilidade de ela embarcar no mesmo coletivo, pois seria mais um atraso. Só então percebi que ela também transportava um gato e uma mochila que, só de olhar, já me deixava fatigado.

Enquanto isso, chegou um senhor que me fez uma pergunta que tentei entender, mas não consegui. Ele exclamava:
— Ai, minha perna!
Só depois de algum tempo percebi que ele queria saber se o ônibus ia para Jardim Carapina. Sanada a dúvida, pedi que ele se sentasse e esperasse o embarque. Ele se sentou e, pouco tempo depois, chegaram dois rapazes, cada um com um colar de fazer inveja aos MCs da vida — enormes, dourados e ostentando um medalhão. O pobre homem se assustou e ofereceu uns papéis que tinha no bolso, mas os rapazes recusaram e disseram que não eram assaltantes. Entraram no ônibus e foram embora.

Depois de muito esperar, chegou o meu coletivo. Entrei, sentei e fiquei aguardando o início da “viagem”. Chegou uma senhora de meia-idade, bateu na porta dianteira e perguntou:
— Motorista, esse ônibus passa na rua Teófilo Otoni?
— Não, senhora.
— É porque eu quero ir pra lá! Mas eu quero um ônibus que passe lá!
— Senhora, nenhum passa lá.
Ela respondeu:
— Vou sentar na frente, e o senhor me avisa quando chegar, certo?
Ela se encaminhou como se fosse entrar no ônibus, passou direto e se evadiu do terminal. Não entendi nada!

O terceiro e último trajeto foi bem tranquilo, e finalmente cheguei à Padaria Sansil — mas esse já é outro papo.

É isso por hoje... a vida que segue!

sábado, 1 de novembro de 2025


O Dia de Muitos Mortos-Vivos

O dia 2 de novembro foi escolhido para homenagearmos nossos mortos. Por todo o Brasil, acontecem verdadeiras peregrinações aos cemitérios, e nesses locais podemos presenciar desde a serenidade cheia de saudade até o desespero de pessoas tomadas pelo arrependimento por atitudes que não tiveram em vida com seus entes queridos.

Algumas dores são recentes — de esposas que perderam seus maridos após longos anos de convivência. Outras são de maridos que não conseguem se reencontrar, pelo fato de terem passado toda uma vida ao lado de quem partiu, sem ao menos poder se despedir. São dores de saudade pela ausência do cônjuge.

Nesse dia também há a dor dos filhos que perderam seus pais e que precisam corrigir a rota da caminhada — o que nem sempre é fácil. A sensação de que a família está se desintegrando com a partida dos nossos pais é um sentimento de difícil expressão.

Mas existe uma dor ainda mais profunda: a dos pais que perderam seus filhos queridos. Não fui pai, mas já vivi de perto a dor deles ao sepultarem seus filhos. É um tipo de dor que nunca passa, e que fica ainda mais evidente quando todos se reúnem para homenagear seus filhos falecidos. Não importa a forma como morreram — são e sempre serão filhos. Como já disseram: “Em tempos de paz, os filhos sepultam os pais; em tempos de guerra, os pais sepultam os filhos.”

Todos nós temos lembranças neste dia. Mesmo que não vamos ao cemitério, nossas memórias permanecem vivas — e, muitas vezes, cruéis. Elas estão lá para nos fazer reviver momentos que se tornaram eternos. Que tipo de recordações suas memórias trazem ao seu coração?

Quando penso nesse dia, vem-me à mente a ideia dos “mortos-vivos”. Naturalmente, o leitor pode pensar que me refiro aos filmes dos anos oitenta, como A Volta dos Mortos-Vivos, ou à série The Walking Dead, mas essa não é minha intenção.

Falo dos entes queridos que se foram, mas continuam vivos dentro das nossas lembranças, aquecendo nossos corações.

Foram pais que marcaram nossas vidas de maneira profunda, procurando nos dar o melhor que possuíam na formação do nosso caráter — como homens e mulheres que sonham em viver num mundo melhor.

Foram filhos que, por mais ou menos tempo que tenham vivido, deixaram marcas inesquecíveis na vida de seus pais. Suas histórias jamais serão esquecidas. Lembrar com carinho e gratidão torna a alma mais leve.

Hoje lembramos dos mortos que já se foram, mas também de muitos vivos que, infelizmente, já estão mortos. São pais esquecidos há muito tempo — antes nos asilos, agora dentro de suas próprias casas, abandonados em quartos e tratados como desconhecidos.

Lembramos também das crianças que, ainda na mais tenra idade, foram abandonadas pelos pais em troca de noitadas, baladas e bebidas. Outras crescem soltas, sem nenhuma supervisão de adultos — crianças “mortas-vivas” na consciência de pais irresponsáveis.

Lembramos dos mortos em sangrentos combates — sejam policiais, sejam bandidos — e das famílias que ainda se encontram enlutadas, pois perderam pais, filhos, irmãos, parentes. Todos sofrem a mesma dor e a mesma revolta, enquanto o povo, distante dessas realidades, muitas vezes alimenta ainda mais o ódio nos corações daqueles que necessitam de consolo.

Hoje precisamos nos lembrar de quem nos marcou com sua maneira simples de viver, e que é lembrado com carinho e saudade.

Chore o quanto for preciso pelos que se foram e apertam o seu coração, mas lembre-se: há muitos vivos que também desejam ser marcados pela sua vida — para que, um dia, você e eu sejamos lembrados com saudade.

Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem aflição, nem choro, nem dor, pois as coisas antigas já passaram. Aquele que estava assentado no trono disse: ― Vejam, eu farei novas todas as coisas! Apocalipse 21: 4 e 5.

Que Deus possa confortar nossos corações neste dia. 

É isso por hoje. Com muito carinho... é vida que segue!