O caso da menina esquecida no ônibus
Era uma família enorme para os
padrões dos nossos dias. Com os pais formavam o número chegava a cinco pessoas,
logo eram três filhas. Meninas bonitas e muito bem cuidadas pela dedicada mãe. O
trabalho era incansável durante a semana, pois além de lutar para o sustento
das meninas, era preciso alimentá-las, penteá-las, vesti-las e isso dava um
trabalho tremendo.
A semana era sempre muito
corrida, mas a família adorava quando chegava o domingo. Todos precisavam
levantar muito cedo, pois era o dia de ir à igreja. A mãe era a primeira a
pular da cama e iniciava uma batalha de acordar as meninas, enquanto o pai
corria até a padaria que não ficava muito próxima de casa para comprar alguns
pães para o café.
Todos de café tomado era hora
de ir bem rápido para o ponto de ônibus que deixaria a família bem perto da
Igreja Batista Morada de Camburi. Os tempos eram outros e a quantidade de
ônibus que circulavam na Grande Vitória era bem menor e por isso demoravam
bastante, principalmente aos domingos.
Chegaram na igreja e cada um
foi para sua sala da Escola Bíblica Dominical. A igreja tinha salas com
professoras especialistas em atividades com as crianças e a cada domingo pela
manhã, parece que as meninas ganhavam nova vida devido a paixão que elas tinham
pelas “tias das salinhas.”
Normalmente após a EBD, havia o
culto no templo e as famílias se sentavam juntas e quando possível na mesma
bancada e as crianças por sua vez, ficavam bem atentas na medida do possível,
nas falas dos adultos. Algumas vezes era preciso chamar atenção, pois nenhuma
criança consegue ficar ouvindo adulto falar por mais de quinze minutos.
Finalmente o culto terminou e chegou o momento de voltar para casa.
O percurso da igreja até o
ponto de ônibus não era tão longo e o coletivo não demorou chegar. Naquele
tempo não havia o aplicativo da GVbus. A família entrou no coletivo e a filha
mais nova, sentou-se nas primeiras cadeiras e como era muito falante, começou a
conversar com uma senhora enquanto a viagem prosseguia.
Chegando ao ponto perto da
casa a família se apressou em descer e o ônibus seguiu viagem e só então no
momento de atravessar a rua era preciso juntar as crianças, mas se deram conta
de que a filha mais nova fora esquecida no coletivo. Um domingo que começara
bem, estava dando mostras que poderia não terminar como havia começado.
Em pouco tempo e como sempre
acontece houve um início de tensão e a pergunta que não queria calar: de quem
foi a culpa? Você não olhou sua irmã? Meu Deus que faremos? A primeira
providencia foi mandar uma das irmãs mais velha no ônibus que veio em seguida
para tentar encontrar a menina de cinco anos.
Enquanto isso, a menina
esquecida no ônibus, conversava com uma senhora que achou estranho uma criança
tão esperta e falante sozinha, uma vez que o coletivo chegara no ponto final.
O motorista e aquela senhora
indagaram a criança sobre os pais e onde ela morava e para surpresa geral ela
falou o nome do pai, da mãe e como não bastasse o nome e o telefone de uma
vizinha que logo foi contactada e os pais foram informados que a menina estava
bem e foi devolvida em segurança à família.
Tive oportunidade de conhecer essa
história há dias, ouvindo a própria matriarca e conheci aquela menina que
gostava tanto de conversar, agora é mãe de uma linda criança e pedi permissão
para contar a história sem mencionar nomes.
Aprendi com essa história
apesar de tensa teve o final feliz, pois havia uma criança desinibida que
conversava com os pais, irmãs, vizinhas e procurava aprender coisas que
poderiam parecer sem importância, mas foram fundamentais para ela retornar à
família.
Aprendi com essa história que,
no nosso dia a dia se o nosso smartphone der um defeito é muito provável que
nem o número do telefone da esposa, esposo, filhos, parentes, vizinhos não saberemos,
pois somos dependentes da agenda do nosso aparelho. Que triste!
Aprendi ainda que criança
precisa de vigilância o tempo inteiro pois muitas vezes num pequeno descuido,
coisas ruins podem acontecer e se transformarem em tragédias que deixam marcas
para sempre nas famílias.
Aprendi que Deus foi bondoso
com os pais da menina e a história terminou bem, embora tenha causado um grande
susto em toda família.
É o que temos para hoje... é
vida que segue!