As
travessuras do tempo...
(Uma
singela homenagem à Maria da Penha Silva Gomes, minha mãe)
Sabe, nos conhecemos há mais
de 65 anos, e confesso que não posso precisar o tempo, mas garanto que ele é
longo e enfrentamos muitos desafios que, em muitos momentos, não sabíamos se os
superaríamos, mas superamos!
Naqueles primeiros anos, você
como mãe era possuidora de uma grande energia, moldada pelos primeiros anos de
uma mãe que cuidava dos dois primeiros filhos com toda garra e sem muita
experiência, a não ser aquela que você havia aprendido com sua mãe. Bem, ela
era uma negra brava e que gostava de resolver as coisas com umas boas chinelas
para depois saber o que havia de fato acontecido.
Assim era você! Enérgica,
atuante, procurando fazer tudo ao mesmo tempo, considerando que o seu marido
trabalhava, num primeiro momento, lavando à noite os ônibus da Itapemirim, que
tinha um cachorro na porta do veículo. Algum tempo depois, iniciou sua carreira
na Rede Ferroviária Federal, viajando entre Cachoeiro e Vitória, e também até a
cidade de Campos, no velho Cacique, que ligava a Cidade Secreta do Mundo com a
Cidade Maravilhosa.
Os dias eram assim! Levantar
cedo, cuidar das crianças e, em alguns momentos, os irmãos (Reinaldo de saudosa
memória e Laurinda) e cunhadas (Alzira e Babá), vinham dar uma força para você.
Um tomava conta do Robertinho que, segundo dizem, era uma criança que gostava
de mexer em tudo e de derrubar umas velhas moedas que eram empilhadas ao chão
de taco e depois chorava para que o monte fosse refeito. Ainda bem que esse
menino mudou!
Você foi vencendo, os meninos
foram crescendo, e outros chegando e, finalmente, alcançamos o número de cinco
que sobreviveram, pois dois deles foram para os braços do Pai, ainda
recém-nascidos. Não foram dias fáceis, mas você enfrentava tudo com muita garra
e energia!
Recordo-me de que houve um
tempo em que sua saúde ficou extremamente frágil. Confesso que no meu mundo de
criança curiosa eu sabia exatamente tudo que acontecia e os riscos de vida que
você enfrentava, não cessava de pedir misericórdia a Deus para preservar sua
vida, pois não achava justo ver você sofrendo e com a possibilidade de nos
deixar.
Naquela época tive a certeza
de que Deus ouve as orações de uma criança, pois coloquei-me a suplicar por sua
vida e perdi as contas das noites que dormi intercedendo por você e, se algum
sacerdote passasse por perto, teria a mesma impressão que Eli teve quando Ana
orava pedindo a Deus um filho e foi tomada como embriagada, no meu caso pedia
pela sua saúde.
Nossas súplicas foram
atendidas e você foi curada, os meninos (Roberto, Rogério e Renato) e as
meninas (Sueli, Solange e Leonora) cresceram e o mais velho deixou sua cidade
natal para ir estudar teologia no Rio de Janeiro, para atender um chamado
ministerial. Sei que foi uma partida muito dura, afinal éramos além de mãe e
filho, havia uma história que nos unia diante de muitas lutas que enfrentamos
durante minha infância, adolescência e início da minha juventude.
Mas como Deus tem os seus
planos, no meu segundo ano de seminário, enquanto passava na Grande Vitória,
pois viajava de uma cidade para outra, fui surpreendido com sua chegada e de
minha tia Babá com a notícia que o meu pai havia sofrido um forte AVC. Meu
primeiro desejo foi retornar do Rio para ajudar em casa, mas não me esqueço de
uma frase sua que nunca mais saiu do meu coração: “o Deus que te chamou é o
mesmo que sustentar-nos-á e não nos desamparará, não se preocupe que nós
venceremos”. Retornei para o Rio com o coração apertado, mas apegado nas suas
palavras e nas promessas de Romanos 8:31-39.
Depois de algum tempo, tive a
oportunidade de descer às águas batismais com meu saudoso pai e, após 24 anos
de acompanhamento ininterrupto que você dedicou a ele, Deus o tomou para si e
quis que fosse no dia de Natal de 2004. Nossos Natais mudaram, mas não deixamos
de ser gratos a Deus pela comemoração do Nascimento de Cristo.
O tempo foi passando e sua
vitalidade em sair, para fazer os Cultos dos Bebês da sua querida Igreja
Batista do Aquidabã foi aos poucos diminuindo, mas como disse nossa amiga Jane
Bolsonello, por ocasião do seu aniversário de 80 anos, nos últimos 40 anos, praticamente
todas as crianças foram apresentadas por
você e agora, adultas, elas lhe demonstram um profundo respeito e carinho. Isso
muito me enche de orgulho!
O tempo passou e na maioria
das vezes ele é inexorável. Ele não se toca, apenas passa e traz suas
consequências. Graças a Deus nós temos algo que ele não tem. Temos sentimentos
e podemos lembrar desse tempo que passa com carinho de tudo que um dia vivemos
e, mesmo que nunca mais volte, não deixamos de expressar nossa gratidão.
Esse texto é a minha expressão
de gratidão à Maria Gomes, minha querida mãe. Mulher que correu a vida inteira.
Que conseguia ir andando ao centro da cidade de Cachoeiro pelo menos duas vezes
por dia para resolver problemas da casa, bancos, fazer compras, ir às escolas
para acompanhar a situação dos filhos e filhas e ainda tinha tempo para visitar
vizinhos nos hospitais e cuidar das responsabilidades com o Rol de Bebês de sua
igreja!
Maria Gomes, nossa mãe, mulher
de valor! Sou grato a Deus por sua vida. Sou grato, pois além de ter dado o seu
melhor tempo para nós, seus filhos, e ter cuidado dos netos - todos eles lhe
são gratos, sem exceção -, ainda teve tempo para sempre se preocupar e visitar
seus vizinhos.
Sabe de uma coisa, minha mãe:
sei que você está vivendo um tempo em que seus oitenta e oito anos de idade
começam a pesar diante de muitas lutas que você viveu e ainda vive, mas a vida
é mesmo assim. O tempo passa e com ele muito da nossa vitalidade vai e, como o
corpo é o que de mais aparente nós temos, ele começa a não nos obedecer como
outrora, e isso às vezes nos desagrada.
Tem dias que até mesmo a nossa
mente, nossa maior aliada, parece que quer mudar de lado, mas insistimos para
que ele permaneça ali e não nos traia, pois isso não consideramos justo. São as
mudanças dos nossos corpos, pois os dias são assim.
Quando o dia insistir em
querer insinuar indiferença, mostre diferença positiva na sua mente, ainda que
algumas partes do corpo não obedeçam. Cuide-se com suas medicações, mas tenha
sempre uma atitude positiva de que dias e momentos melhores virão. Tenho em
cada máquina da minha equipe a seguinte frase: “não gaste energia naquilo que
você não pode mudar”. Parafraseando,
procure empregar suas forças vitais naquilo que pode lhe trazer esperança.
Minha querida mãe, sua vida
sempre foi pautada pelo amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança e não há lei contra essas coisas. Por isso,
nos tempos difíceis, assim como no passado, continue exercitando o fruto do
Espírito, pois essa sempre foi a marca da sua vida!
Com carinho de um filho que
não se esquece de ser grato a Deus pela mãe que tem e ama, assim como ele sabe
que esse sentimento é comum a todos os filhos, filhas, netos e netas.
Mulher virtuosa, quem a
achará? Somos felizes, pois encontramos nossa mãe e o nosso saudoso pai
encontrou sua amada esposa.
É isso por hoje... e vida que
segue!
Que texto maravilhoso emocionante
ResponderExcluirObrigado, minha amiga!
ExcluirLindo texto!! Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado!
ExcluirEssa merece tudo isso e muito mais. Parabéns 👏🏾👏🏾👏🏾
ResponderExcluirÉ verdade Primo!
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