.

.

domingo, 21 de junho de 2015

O céu está tão nublado...


O céu esta tão nublado...

Foi uma manhã totalmente diferente em Saly. Quando abri a janela do meu quarto, percebi o prenúncio de um dia nublado e poderia dizer com a forte sensação de chuva no ar. O céu estava tão nublado que me fez lembrar de uma canção da minha infância em Cachoeiro de Itapemirim: “o céu esta tão nublado, há tempos que não fica assim, só me recordo de águas passadas... mas eu tenho certeza de que esta saudade não leva a nenhum lugar.”

Após tomar o meu banho saí  para comprar o pão, naquela brisa de uma manhã que me fazia lembrar da chuva. Encontro-me com um senhor e o saúdo: - bonjour monsieur. Comment allez-vous? Ele responde: - ça va bien, monsieur. Bonne journée. A distância entre minha casa e a boulangerie (padaria) é curta, porém preciso passar por uma rua entre um terreno com uma casa por ser concluída e uma loja de materiais de construção com seus caminhões, britas, areias e ferragens acomodados entre a loja e o asfalto.

Os carros ainda não começaram seus movimentos frenéticos, porém os coletivos (carros de transportes) estão trabalhando a todo vapor e naturalmente quando me veem o primeiro movimento é sinalizar para saber se vou para o centro de Mbour ou Saly. Como nenhuma das opções me interessa no momento, atravesso a pista após passar debaixo de uma grande árvore que acomodava carinhosamente uma carroça com seu burrico e seu dono prontos para mais um dia de trabalho.

Ao chegar na padaria o processo de escolha do pão também é bem diferente. Eles ficam acomodados num canto esquerdo do balcão, coberto por uma folha de papel de saco de cimento. Normalmente você escolhe o seu pão manuseando-o, ou seja não basta ver é preciso pegar para certificar a qualidade do produto que se quer levar. Depois da escolha que foi bem rápida, efetuo o pagamento e saio com minha baguette quentinha pronta para ser degustada no café da manhã.

Ao término do café é hora de pegar a estrada num coletivo até Keur Madiagne para participar da Formatura do Pepe Les Vainqueurs. Tudo já estava montado bem no campo de areia ao lado da escola. Os pais impecavelmente trajados. Os homens com seus melhores bubus e as mulheres com as mais variadas combinações de cores nos seus foulard todos acomodados debaixo de uma grande estrutura de lona. Os Pepitos são pura alegria e se apertavam num misto de euforia e ansiedade para o grande momento de suas vidas que é a formatura.

A festa teve o seu início com professores orgulhosos e as crianças foram chamadas para receberem seus respectivos diplomas e uma lembrança com direito a pose para os fotógrafos de plantão. Tudo regado a muita música e danças, festa tipicamente africana.

Claro que todas estavam lindas, mas fiquei tocado por uma dessas crianças que tive o privilégio de acompanhar durante seis meses. Vou preservar o seu nome, porém ela tem síndrome de down e segundo a história que me foi contada, ela foi para o Pepe e de lá não mais saiu. Evidentemente que ela inspirava maiores cuidados, considerando a maneira como as crianças portadoras desta síndrome por aqui são tratadas. Esta história eu te conto depois. O importante é que no Pepe, ela recebeu o carinho e atenção que toda criança merece. Recebeu seu diploma imponente e feliz. Meu coração se achou no direito de chorar... pura emoção!

Foi bela a festa e o final foi comemorado com um delicioso lanche em que todos participaram com grande alegria. Uma turma deixa o Pepe e segue à escola pública e a outra turma ficará mais um ano letivo que por aqui começará em outubro.

Neste momento, voltei-me para o céu em busca das nuvens que o cobriam pela manhã e deparei-me com um belo e forte sol reinando absoluto no firmamento em homenagem aos Pepitos.

Então é hora de arrumar as bagagens e voltar para casa...

Parabéns Pepitos!

2 comentários:

  1. Caminhei contigo pelas ruas e pude vivenciar cada cena. Verdadeiramente seu ser está aí.

    ResponderExcluir