Foi uma manhã totalmente diferente em Saly.
Quando abri a janela do meu quarto, percebi o prenúncio de um dia nublado e
poderia dizer com a forte sensação de chuva no ar. O céu estava tão nublado que
me fez lembrar de uma canção da minha infância em Cachoeiro de Itapemirim: “o
céu esta tão nublado, há tempos que não fica assim, só me recordo de águas
passadas... mas eu tenho certeza de que esta saudade não leva a nenhum lugar.”
Após tomar o meu banho saí para comprar o pão, naquela brisa de uma
manhã que me fazia lembrar da chuva. Encontro-me com um senhor e o saúdo: - bonjour
monsieur. Comment allez-vous? Ele responde: - ça va bien, monsieur. Bonne
journée. A distância entre
minha casa e a boulangerie (padaria) é curta, porém preciso passar por uma rua
entre um terreno com uma casa por ser concluída e uma loja de materiais de
construção com seus caminhões, britas, areias e ferragens acomodados entre a
loja e o asfalto.
Os carros ainda não começaram seus movimentos
frenéticos, porém os coletivos (carros de transportes) estão trabalhando a todo
vapor e naturalmente quando me veem o primeiro movimento é sinalizar para saber
se vou para o centro de Mbour ou Saly. Como nenhuma das opções me interessa no
momento, atravesso a pista após passar debaixo de uma grande árvore que
acomodava carinhosamente uma carroça com seu burrico e seu dono prontos para
mais um dia de trabalho.
Ao chegar na padaria o processo de escolha do
pão também é bem diferente. Eles ficam acomodados num canto esquerdo do balcão,
coberto por uma folha de papel de saco de cimento. Normalmente você escolhe o
seu pão manuseando-o, ou seja não basta ver é preciso pegar para certificar a
qualidade do produto que se quer levar. Depois da escolha que foi bem rápida,
efetuo o pagamento e saio com minha baguette quentinha pronta para ser
degustada no café da manhã.
Ao término do café é hora de pegar a estrada
num coletivo até Keur Madiagne para participar da Formatura do Pepe Les
Vainqueurs. Tudo já estava montado bem no campo de areia ao lado da escola. Os
pais impecavelmente trajados. Os homens com seus melhores bubus e as mulheres
com as mais variadas combinações de cores nos seus foulard
todos acomodados debaixo de uma grande estrutura de lona. Os Pepitos são
pura alegria e se apertavam num misto de euforia e ansiedade para o grande
momento de suas vidas que é a formatura.
A festa teve o seu início com professores
orgulhosos e as crianças foram chamadas para receberem seus respectivos
diplomas e uma lembrança com direito a pose para os fotógrafos de plantão. Tudo
regado a muita música e danças, festa tipicamente africana.
Claro que todas estavam lindas, mas fiquei
tocado por uma dessas crianças que tive o privilégio de acompanhar durante seis
meses. Vou preservar o seu nome, porém ela tem síndrome de down e segundo a
história que me foi contada, ela foi para o Pepe e de lá não mais saiu.
Evidentemente que ela inspirava maiores cuidados, considerando a maneira como
as crianças portadoras desta síndrome por aqui são tratadas. Esta história eu
te conto depois. O importante é que no Pepe, ela recebeu o carinho e atenção
que toda criança merece. Recebeu seu diploma imponente e feliz. Meu coração se
achou no direito de chorar... pura emoção!
Foi bela a festa e o final foi comemorado com
um delicioso lanche em que todos participaram com grande alegria. Uma turma deixa
o Pepe e segue à escola pública e a outra turma ficará mais um ano letivo que
por aqui começará em outubro.
Neste momento, voltei-me para o céu em busca
das nuvens que o cobriam pela manhã e deparei-me com um belo e forte sol
reinando absoluto no firmamento em homenagem aos Pepitos.
Então é hora de arrumar as bagagens e voltar
para casa...
Parabéns Pepitos!