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sábado, 13 de agosto de 2022


LEMBRANÇAS DE UM HOMEM BOM

Cada um de nós tem uma história que fica guardada na nossa memória afetiva. Mesmo que o tempo passe, ao ouvirmos uma música de nossa infância, somos transportados a lugares que pareciam ter desaparecido de nossa vida, mas eles estão lá, guardados.

Se eu te pedisse para me falar de algum fato marcante do seu tempo da meninice, tenho certeza que você teria boas histórias para contar.

Quem não se lembra com carinho da visita dos avós? Saber que eles viriam nos visitar, já era suficiente para nos sentirmos felizes, mas o momento da partida nos entristecia profundamente. Quanta saudade!

Como o tempo era gracioso, pois encontrávamos espaços durante o dia para frequentarmos a escola com professores carinhosos, salvo raras exceções, e após sofrer várias espécies de “bullying”, voltávamos para casa alegres. Quando o dia era chuvoso, passávamos debaixo de todas as bicas de água fazendo uma festa que não deixava nossas mães nada satisfeitas.

Ainda tenho um fato curioso e bem perigoso gravado na minha memória. Meu pai trabalhava na Rede Ferroviária e sempre que sua escala de trabalho era na velha estação da Leopoldina, minha mãe me pedia para que levasse o almoço dele.

Certa vez, depois de entregar o almoço do meu saudoso pai, fiquei observando os trabalhadores fazendo manobras no trem para que os vagões ficassem alinhados e seguissem viagem para Vitória, Campos, Rio de Janeiro ou mesmo à fábrica de Cimento Nassau.

Depois de muito observar, tive uma belíssima ideia: pegar carona no trem, porque me parecia muito divertido. Esperei o momento exato e quando o vagão veio, aproveitei, segurei firme no corrimão da composição de passageiro e senti um vento suave nas minhas costas, essa sensação me deixou muito feliz.

Entretanto, quando percebi que o trem ganhava velocidade, senti necessidade de desembarcar. Essa decisão teria que ser rápida, caso contrário, não mais conseguiria.

Tomada a decisão de descer, imediatamente soltei minhas mãos, mas em nenhum momento considerei que haviam “dormentes”, aquelas madeiras que seguravam os trilhos e nem mesmo a chave que mudava a direção dos trens. Sem pensar em nada, quando percebi, caí sentado em cima dessa chave e se eu não tivesse segurado firme com todas as minhas forças, teria rodopiado e caído bem entre os trilhos e debaixo das rodas do vagão.

Após empregar uma força descomunal, minha primeira atitude foi olhar para os lados para ver se alguém havia presenciado a cena e para minha tristeza, havia um colega do meu pai que viu e disse: - Vou contar tudo para o seu pai, moleque! Ouvi aquilo com muita tristeza, pois não poderia respondê-lo por estar totalmente sem razão.

Voltei para casa com um profundo sentimento de arrependimento e com mãos e braços doídos, sem falar na pancada que levei no bumbum, caindo com todo o meu peso de costas. Qual seria a reação do meu pai ao saber que o Robertinho havia aprontado uma peraltice que poderia ter lhe tirado a vida ou torná-lo uma criança sem alguns dos seus membros?

Enfim, entardeceu! Finalmente, meu pai chegou em casa e claro que eu não disse nada à mamãe, pois a conversa seria diferente. Ele chegou, me chamou à sala e disse: - Sente-se aqui, meu filho. Sentei e preparei-me para o pior.

Ele começou a falar: – Todos os dias saio de casa as madrugadas, viajo por essas estradas de ferro perigosas, arriscando minha vida para dar o melhor para vocês. Enfrento descer e subir do trem, pois essa e a minha profissão.  Você não trabalha na Rede Ferroviária e não pode arriscar a sua vida. Já imaginou se você tivesse caído entre as rodas do trem? Como seria sua vida?

Ouvi àquelas ponderações de um homem que em momento algum mudou o seu tom de voz. Papai me falou com firmeza, carinho e ternura. Fiquei tão envergonhado e ao mesmo tempo aliviado porque algo pior não aconteceu.  Prometi ao meu pai que nunca mais faria aquilo. E, realmente, não fiz.

Qual foi o segredo do sucesso daquela conversa? Um papo sem raiva e acima de tudo, que me trouxe à responsabilidade, mesmo sendo um pré-adolescente ávido por uma aventura de menino. Meu pai foi um grande mestre e me ensinou uma preciosa lição: vale a pena obedecer!

Por essa atitude e muitas outras, sempre guardamos no nosso coração a lembrança de nosso pai como um homem bom. De alguém que tirava a roupa do seu corpo, comida da boca para nos dar. Homem sábio que era, apesar do cansaço, sempre reservava tempo para sair conosco quando vivíamos nossa primeira infância.

Quero aproveitar para homenagear a todos os pais nesse dia e desejar que Deus a todos abençoe!  Que um dia também possam ser lembrados como homens bons que não mediram esforços para demonstrar amor aos seus filhos.

É isso por hoje... é vida que segue cheia de saudades!

 


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