LEMBRANÇAS DE UM HOMEM BOM
Cada um de nós tem uma história que fica
guardada na nossa memória afetiva. Mesmo que o tempo passe, ao ouvirmos uma
música de nossa infância, somos transportados a lugares que pareciam ter
desaparecido de nossa vida, mas eles estão lá, guardados.
Se eu te pedisse para me falar de algum fato
marcante do seu tempo da meninice, tenho certeza que você teria boas histórias
para contar.
Quem não se lembra com carinho da visita dos
avós? Saber que eles viriam nos visitar, já era suficiente para nos sentirmos
felizes, mas o momento da partida nos entristecia profundamente. Quanta saudade!
Como o tempo era gracioso, pois encontrávamos
espaços durante o dia para frequentarmos a escola com professores carinhosos, salvo
raras exceções, e após sofrer várias espécies de “bullying”, voltávamos para
casa alegres. Quando o dia era chuvoso, passávamos debaixo de todas as bicas de
água fazendo uma festa que não deixava nossas mães nada satisfeitas.
Ainda tenho um fato curioso e bem perigoso gravado
na minha memória. Meu pai trabalhava na Rede Ferroviária e sempre que sua
escala de trabalho era na velha estação da Leopoldina, minha mãe me pedia para que
levasse o almoço dele.
Certa vez, depois de entregar o almoço do meu
saudoso pai, fiquei observando os trabalhadores fazendo manobras no trem para
que os vagões ficassem alinhados e seguissem viagem para Vitória, Campos, Rio
de Janeiro ou mesmo à fábrica de Cimento Nassau.
Depois de muito observar, tive uma belíssima ideia: pegar carona no trem, porque me parecia muito divertido. Esperei o momento exato e quando o vagão veio, aproveitei, segurei firme no corrimão da composição de passageiro e senti um vento suave nas minhas costas, essa sensação me deixou muito feliz.
Entretanto, quando percebi que o trem ganhava
velocidade, senti necessidade de desembarcar. Essa decisão teria que ser rápida,
caso contrário, não mais conseguiria.
Tomada a decisão de descer, imediatamente soltei
minhas mãos, mas em nenhum momento considerei que haviam “dormentes”, aquelas
madeiras que seguravam os trilhos e nem mesmo a chave que mudava a direção dos
trens. Sem pensar em nada, quando percebi, caí sentado em cima dessa chave e se
eu não tivesse segurado firme com todas as minhas forças, teria rodopiado e
caído bem entre os trilhos e debaixo das rodas do vagão.
Após empregar uma força descomunal, minha
primeira atitude foi olhar para os lados para ver se alguém havia presenciado a
cena e para minha tristeza, havia um colega do meu pai que viu e disse: - Vou
contar tudo para o seu pai, moleque! Ouvi aquilo com muita tristeza, pois não
poderia respondê-lo por estar totalmente sem razão.
Voltei para casa com um profundo sentimento de
arrependimento e com mãos e braços doídos, sem falar na pancada que levei no
bumbum, caindo com todo o meu peso de costas. Qual seria a reação do meu pai ao
saber que o Robertinho havia aprontado uma peraltice que poderia ter lhe tirado
a vida ou torná-lo uma criança sem alguns dos seus membros?
Enfim, entardeceu! Finalmente, meu pai chegou em
casa e claro que eu não disse nada à mamãe, pois a conversa seria diferente.
Ele chegou, me chamou à sala e disse: - Sente-se aqui, meu filho. Sentei e
preparei-me para o pior.
Ele começou a falar: – Todos os dias saio de
casa as madrugadas, viajo por essas estradas de ferro perigosas, arriscando
minha vida para dar o melhor para vocês. Enfrento descer e subir do trem, pois
essa e a minha profissão. Você não
trabalha na Rede Ferroviária e não pode arriscar a sua vida. Já imaginou se
você tivesse caído entre as rodas do trem? Como seria sua vida?
Ouvi àquelas ponderações de um homem que em
momento algum mudou o seu tom de voz. Papai me falou com firmeza, carinho e
ternura. Fiquei tão envergonhado e ao mesmo tempo aliviado porque algo pior não
aconteceu. Prometi ao meu pai que nunca
mais faria aquilo. E, realmente, não fiz.
Qual foi o segredo do sucesso daquela conversa?
Um papo sem raiva e acima de tudo, que me trouxe à responsabilidade, mesmo
sendo um pré-adolescente ávido por uma aventura de menino. Meu pai foi um
grande mestre e me ensinou uma preciosa lição: vale a pena obedecer!
Por essa atitude e muitas outras, sempre guardamos
no nosso coração a lembrança de nosso pai como um homem bom. De alguém que
tirava a roupa do seu corpo, comida da boca para nos dar. Homem sábio que era,
apesar do cansaço, sempre reservava tempo para sair conosco quando vivíamos
nossa primeira infância.
Quero aproveitar para homenagear a todos os pais
nesse dia e desejar que Deus a todos abençoe! Que um dia também possam ser lembrados como
homens bons que não mediram esforços para demonstrar amor aos seus filhos.
É isso por hoje... é vida que segue cheia de saudades!
É muito bom termos lembranças maravilhosas em nossas memórias do nossos saudosos pais!
ResponderExcluirAmém!!! Bjs
ExcluirRicas lembranças, amigo! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, amigo querido!
ExcluirAmém!!!
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