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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025


Vida de pobre é difícil...  

O dia foi quente, e a tarde começou alegre e cheia de expectativas. Colegas trocaram seus horários de trabalho para se concentrarem diante da TV. Afinal, era a grande decisão. Porém, com o passar do tempo, o ambiente foi ficando triste e, assim que o jogo terminou, a chuva caiu.

Parecia que o céu havia resolvido chorar a derrota daquele time na capital do Espírito Santo, juntamente com milhares de torcedores espalhados pelo Brasil.

A previsão do tempo era de alerta vermelho, então resolvi deixar o trabalho, pois o tempo prometia chuva pesada. Quem trabalha em Vitória, em Santa Lúcia, deve ficar atento na Praça Doutor Demócrito, não pode facilitar; e, se a pessoa mora em Vila Velha, o cuidado precisa ser redobrado.

No ponto do ônibus, espremidos num abrigo que, se você se sentar, fica todo molhado, e, se subir no banco, apenas os pés são atingidos pelas águas, que davam a impressão de que seriam torrenciais.

No mesmo local estava Yuri, colega de trabalho, que, aflito, examinava o aplicativo e, durante uns 30 (trinta) minutos, afirmava categoricamente que o ônibus viria em 5 (cinco) minutos. Foi chegando gente ao abrigo e, como não poderia deixar de ser, alguns torcedores daquele time derrotado no final da tarde, pelo horário de Brasília.

Como um bom amigo da onça, comecei a comentar com os rapazes sobre o jogo, como se o meu time tivesse perdido, e a conversa ganhou vida com frases bem preciosas: vida de pobre é muito difícil, pois, além de o time perder, ainda se toma chuva na cara e se chega em casa molhado e resfriado.

Vida de pobre me deixa revoltado, pois fico aqui torcendo para um time que me trouxe azar e, ainda por cima, essa chuva chata que está impedindo os ônibus de chegarem ao ponto, pois não vejo a hora de entrar na minha casa.

Enquanto a conversa entre o grupo acontecia, perguntei ao Yuri, que estava com o aplicativo aberto: — O coletivo está chegando? Ao que ele respondeu: — Chega em 5 (cinco) minutos.Todos rimos muito, pois já esperávamos havia mais de 30 minutos.

E a chuva, com vento, insistia em molhar todos que estavam debaixo do abrigo. No meu caso, aqui entre nós, só os pés, pois subi no assento desde o momento em que cheguei ao local, já que não queria abrir o meu guarda-chuva.

Quando tudo parecia se acalmar, outro disse: vida de pobre é difícil quando a pessoa é solteira; afinal, não é fácil chegar em casa sozinho. Mas, pensando bem, é melhor mandar na própria casa sozinho, pois não tenho coragem de colocar qualquer “moça” (não vou usar a palavra que ele disse) dentro da minha casa, já que tenho duas TVs, e uma delas é de 50 (cinquenta) polegadas.

Do meu lado estava um cidadão olhando para o tempo e, depois de uns 20 (vinte) minutos, me perguntou: — Aqui passa ônibus para Carapina?— Sim, passa!

Fiquei intrigado, pois, no tempo em que ele estava parado feito estátua no ponto, pelo menos uns dez coletivos que iam para onde ele desejava já haviam parado ali. Acho que ele ainda estava pensando na derrota daquele time!

Tentando não ser chato, perguntei mais uma vez:— Yuri, o coletivo está chegando?
E ele respondeu:— Em cinco minutos!

A rapaziada gargalhou, pois foram os cinco minutos mais longos das nossas vidas. Claro que a culpa foi do aplicativo.

Finalmente, o coletivo chegou e, depois da guerra para entrar no ônibus, consegui um cantinho para escrever esta crônica, esperando chegar debaixo de chuva pesada em Vila Velha. Para minha alegria, porém, nem uma gota de água havia caído em Coqueiral de Itaparica.

Discordo de parte da frase daqueles rapazes, pois acho que a vida é para quem sabe viver, como diz o poeta. Vida é para ser vivida de maneira divertida e o mais leve possível. Mas o momento daqueles jovens era diferente: estavam sob o efeito da derrota daquele time... fiquei até constrangido, mas não triste.

É isso por hoje... é a vida que segue!!!

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